3.4. CIDADANIA E ARBORIZAÇÃO¶
Texto de Fernando J Soares
Biólogo
A espécie humana é social. Está no DNA de todos. Isso significa muitas coisas, mas talvez a principal é que desenvolvemos habilidades para interagir uns com os outros de maneira cívica. Não depende exclusivamente das ideias. É também biológico. Muitos tem dificuldades para entender isso porque também somos uma espécie cultural, isto é, das ideologias, das verdades, dos conceitos e outras tantas abstrações que defenderemos fervorosamente, justamente porque somos imaginativos. É também por elas, as ideias, que nos ligamos uns aos outros. E para deixar ainda mais complexo e bonito, nesse imaginário todo existem relações de dependência física entrelaçadas na cultura. Necessidades que, se não preenchidas, precarizam nossa saúde. Precisamos de ar limpo, água potável, alimento sadio, abrigo eficaz, cura para as mazelas e um ambiente saudável para viver tudo que podemos viver.
Coloque essa perspectiva numa linha de tempo milenar e chegaremos à emergência de comunidades, vilarejos, cidades, nações, civilizações. Somos uma espécie criativa, e nesse percurso histórico-civilizatório todo, sabe quem estava lá nos acompanhando por todo esse tempo? Sim: as árvores.
Não há como escapar desta fatídica responsabilidade, isto é, do fato de que se vivemos do, e no meio ambiente, somos responsáveis pelo meio ambiente. Ignorar isso é ignorara a si mesmo. É claro que as ideias virão também para nos distrair ou nos prover com artimanhas políticas que possam nos dispensar do esforço físico e mental que se responsabilizar pelo meio ambiente traz. Sim, traremos todo tipo de desculpas para não nos envolvermos com o incômodo de cuidar do que não nos interessa fazê-lo no momento. Faz parte. Mas isso, esse desvio de atenção não desfaz o fato: a responsabilidade permanece. E quanto mais resistirmos a ela, pior vai ficando. As notícias comprovam e o meio ambiente, como tem estado, também. Passam os dias em rodas de parentes e amigos e manifestamos nosso amor pelos filhos e netos, mas no que tange nossa relação com o meio ambiente que irão herdar, perdura, ainda popular, a nossa contradição.
Portanto, para alcançar o efeito necessário optou-se aqui pela abrangência e pela profundidade do pensar antes de abordarmos tecnicamente a arborização urbana, simplesmente porque a realidade está evidentemente expressa com uma clareza absurda, cristalina na atual condição da arborização urbana de Ivoti. Existem tocos onde antes existiam árvores vivas, espécies invasoras e inclusive prejudiciais à saúde em muitas das calçadas desta cidade. Existem árvores estranguladas, mal podadas, infestadas de parasitas, quebradas sem reparo, e principalmente árvores crescendo onde talvez aquela espécie ou aquele local não seriam o mais adequado. Mas pior do que isso é ainda a carência de árvores, principalmente árvores adultas, frondosas cuja beleza e esplendor saltam aos olhos. Não será por muito tempo. A comunidade de Ivoti está em contínuo crescimento.
Há que sermos maduros. Isso NÃO é culpa de qualquer administração pública de qualquer tempo. Para transformar esse padrão, esse viés cultural, essa permanente tendência à desatenção, precisamos ao menos um minuto que seja, para refletir sobre qual é a parte que nos cabe como cidadãos, indivíduos, no cuidado e atenção às árvores do município. Numa sociedade de livre mercado, não há máquina pública capaz de cuidar sozinha da quantidade de árvores que uma cidade do porte de Ivoti comporta. Repito: sem interesse social, sem participação, sem organização do voluntariado, sem política pública construída de forma participativa, sem educação e comprometimento de seus cidadãos para com sua floresta urbana, suas árvores e os tantos benefícios que estas trazem para o ambiente urbano jamais alcançarão harmonia estética e funcional com a cidade. Se optarmos por deixar ao cargo exclusivo de qualquer administração pública fazer isso sozinha, excludente, não sairemos do lugar. É simplesmente muito caro e conflituoso. Aliás, qualquer iniciativa de governo que não possa contar com apoio da população, está fadada ao fracasso.
Por isso, precisamos que você também participe e se responsabilize pelas árvores. É simples assim. Oriente-se pelas regras de convívio existentes, pela legislação, pelo conhecimento técnico disponível, sem hesitação. Observe as árvores. Traga suas ideias, sua relação com as árvores que você admira ou gostaria de admirar, sua lucidez, seu civismo para juntos conduzirmos o crescimento e a evolução desta cidade para a beleza do convívio com as suas árvores. Foi para isso que esse manual foi escrito e disponibilizado na Web: para, em caso de dúvidas, você poder consultá-lo e fazer bom uso daquilo que aprender aqui; para, em caso de certezas, você sugerir correções e aprimoramento. Podemos, corrigi-lo, atualizá-lo e até simplificá-lo sempre que possível, se esse for o desejo. Aproveite!