5.2. BENEFÍCIOS DA ARBORIZAÇÃO URBANA¶
Abaixo relacionamos pelo menos 12 motivos para cuidarmos das árvores no ambiente urbano. Veremos um a um para que não permaneçam dúvidas sobre a importância de mantermos uma cidade bem arborizada. Se você quiser complementar com mais alguns, encaminhe suas sugestões para meio.ambiente@ivoti.rs.gov.br.
LEMBRE-SE DISSO:
BENEFÍCIOS DA ARBORIZAÇÃO URBANA
- Embelezamento
- Bem estar psicológico e recreação
- Proteção à biodiversidade
- Interceptação de águas pluviais
- Aumento de permeabilidade do solo
- Conforto térmico
- Produção de oxigênio
- Absorção de gás carbônico
- Retenção de poeira
- Fragrância
- Redução da força dos ventos
- Barreira sonora
5.2.1. Embelezamento¶
Independente das reflexões que podemos fazer sobre a beleza, é fato que a percepção da estética nos acompanha. Existem muitos estudos sobre isso, mas não vamos nos aprofundar de forma acadêmica. Para este manual o que é importante ressaltar é que precisamos dar atenção à ela, à beleza, e que as árvores tem um papel fundamental nisso.
As árvores não são maquiagem, elas são o rosto. Qualquer um percebe isso quando por algum motivo uma árvore de grande porte cai ou é derrubada. Imediatamente se percebe a perda de algo na paisagem urbana. Da mesma forma as práticas errôneas de podas radicais que eliminam as copas das árvores por completo são imediatamente percebidas pelos habitantes. Adiciona aí as características peculiares de cada árvore (e.g., floração, mudança de cor das folhas, biotipo), e com um pouquinho de desapego à pressa, nos veremos rodeados de beleza... ou de feiura, caso não cuidarmos.
A beleza atrai. É magnética, enquanto a desarmonia visual repele. Façamos uso desta força da natureza de forma inteligente mantendo as árvores da cidade em condições adequadas para que cresçam belas e saudáveis.
5.2.2. Bem estar psicológico e recreação¶
Além de deixar a cidade bonita, a arborização urbana também traz bem estar psicológico. Para esta justificativa também existem estudos científicos demonstrando isso, mas o senso comum e a experiência prática do dia a dia já dão conta da evidência. O fato é que precisamos da natureza. Para a vasta maioria das pessoas a presença de árvores no ambiente urbano é agradável, revigorante, calmante e seguro. E não é de se surpreender, dados os benefícios das árvores no ambiente urbano que ainda vamos explicitar mais abaixo.
5.2.3. Proteção à biodiversidade¶
O território em que vivemos não é apenas compartilhado entre nós, seres humanos, mas com muito mais espécies, cada uma com suas populações, bandos, grupos, colônias que contribuem para a beleza, a dinâmica sonora e a saúde ecológica. A arborização urbana, quando bem planejada e executada, promove a criação natural de corredores ecológicos utilizados pela biodiversidade. Vejamos o efeito para as classes de animais mais conhecidas.
5.2.3.1. Proteção das aves¶
Saber voar é um privilégio. Mas é impossível ficar voando o tempo todo sem pousar. As aves utilizam a vegetação não apenas para alimento, reprodução e abrigo, mas também para descanso. Muitas espécies não se sentem seguras pousando no chão ou em prédios e tendem a ir embora na ausência de vegetação arbórea. Para outras tantas o stress causado pelo ambiente urbano deteriora a saúde e elas não resistem. A escassez de árvores também acaba por promover a densa ocupação das copas das poucas árvores remanescentes. Não queira passar pela experiência de estacionar o carro embaixo de uma árvore dessas.
Nesse quesito as árvores não são acessórios ou ferramentas, mas o meio de vida para essas espécies. Logo, as árvores urbanas são essenciais para a conservação da avifauna.
5.2.3.2. Proteção de mamíferos¶
Se não pelos cães e gatos, que seja por aqueles mamíferos que ainda conseguem suportar o ambiente urbano junto conosco (e.g., gambás, morcegos, ratos silvestres, porcos-espinho, esquilos...). Essa bicharada deve reclamar muito dos humanos também. A lógica de proteção aqui é a seguinte: quanto mais criarmos habitats silvestres que os permitam se sentir seguros no ambiente urbano, menores são as chances destes animais tentarem ocupar os espaços que não queremos que ocupem (e.g., sótãos, porões, garagens...). Um exemplo de iniciativa que deu certo pode ser conferida junto à National Wildlife Federation dos EUA (NWF) que promove e certifica a criação de habitats silvestres em ambientes urbanos.
5.2.3.3. Proteção de répteis e anfíbios¶
Da mesma forma que para os mamíferos e pelos mesmos motivos, para as cobras, jabutis, lagartos, lagartixas, sapos, pererecas e salamandras entre outros, a vegetação nos espaços urbanos é fundamental. Via de regra, os benefícios que as árvores nos propiciam, que vimos acima e veremos abaixo, também são relevantes para os outros animais. No caso dos anfíbios a sombra, o acúmulo de folhas caídas e a umidade são fundamentais, assim como os insetos que junto habitam o ecossistema arbóreo. No caso dos répteis, as tocas e os anfíbios são fundamentais. A ideia é simples: promover o equilíbrio ecológico, custe o que custar, porque o planeta funciona assim. Não vivemos num planeta sintético. Precisamos saber reproduzir o que o planeta faz de melhor, isto é, manter a vida. Esse também é o papel que as árvores cumprem nos espaços urbanos.
5.2.3.4. Proteção de peixes¶
Quem diria, peixes urbanos. Nem parece, mas a vasta maioria do alimento de peixes produzido num rio ou em quaisquer dos arroios aqui de Ivoti, começa nas árvores. Explico: Tudo em ecologia pode ser pensado na forma de sistemas, de redes, de cadeias e sequências de fenômenos. Acontece que as folhas e os frutos das árvores ribeirinhas, da mata ciliar, que fica às margens dos arroios caem na água e se desmancham aos poucos pela deterioração bacteriana, se tornando alimento para microrganismos. Esses microrganismos serão o alimento de seres vivos um pouco maiores (plânctons) que servirão de alimento para seres vivos um pouco maiores (alevinos), que serão alimento de peixinhos maiores. Você captou a ideia. Então é nas árvores da beira dos cursos d'água que inicia a cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos ribeirinhos. Quando você estiver às margens do Arroio Feitoria lá no núcleo de casas enxaimel, olhe para as árvores e lembre-se disso. Os peixes precisam delas também.
5.2.3.5. Proteção de insetos¶
Não estamos falando de mosquitos e moscas, embora estes também sejam essenciais para alimentar aves e morcegos. Me refiro aqui principalmente às abelhas silvestres nativas, às borboletas, aos grilos, gafanhotos, formigas, vaga-lumes... insetos são muito diversificados e estão por toda parte, mas muitos se sentirão mais à vontade se estiverem junto às árvores. E porque são animais essenciais à vida daqueles outros que já citamos acima, além de serem bonitos por natureza, também precisam ser lembrados. Sim, insetos, são muito bem vindos. Repita comigo até que soe natural e verdadeiro, porque é.
5.2.3.6. Proteção de outras plantas¶
Não me refiro apenas às orquídeas. Ivoti é famosa por suas flores. Me refiro aqui ao grupo conhecido por epífitas, ou plantas que crescem sobre plantas. As árvores são prioridades para estas espécies. E é por isso que entre cuidar da saúde de uma árvore e cuidar da saúde de uma orquídea, precisamos colocar a árvore em primeiro lugar. Falaremos deste assunto mais adiante no manejo e no comprometimento com a condução das copas, para que estas plantas (i.e., orquídeas, bromélias, cactos, samambaias...) possam ter onde crescer com saúde também.
5.2.4. Interceptação das águas pluviais¶
As copas das árvores, galhos e caules fracionam as gotas e friccionam a queda da chuva, diminuindo a força de impacto da queda da água sobre o solo e assim evitando a erosão. Você vai encontrar outras coisas sobre as árvores aqui nesse manual, que talvez você jamais tenha pensado a respeito. As copas das árvores e as raízes são interceptadores naturais das águas pluviais. Cada vez que chove, as primeira água que vai caindo é interceptada pela vegetação. As árvores ficam molhadas antes. Isso diminui a "pressa" da água em correr pelas ruas e calçadas. Mas essa não é a maneira correta de explicar. O que acontece é o efeito esponja. Uma esponja que está seca não permite que a água vai se embora tão rapidamente. Ela primeiro precisa se encharcar. Esse é o efeito da vegetação no meio urbano. Além disso a vegetação assegura a manutenção das nascentes e minimiza as cheias, dado que o sistema radicular contribui para a porosidade do solo. Mas se isso não é suficiente, tenho certeza que você já correu para baixo de uma árvore quando foi pego sem guarda-chuva, no início de uma chuvarada.
5.2.5. Permeabilidade do solo¶
O benefício do item anterior tem relação com este aqui. Uma vez que as gotas de chuva que passam pela copa das árvores chegam de mansinho no chão, se o canteiro em torno das árvores não está totalmente pavimentado, esses dois fatores contribuem para uma melhor permeabilidade do solo favorecendo ainda mais o efeito esponja e evitando ainda mais a quantidade de água que vai embora pelo sistema de drenagem urbana. É graças a permeabilidade do solo que algo como lençol freático existe. Sem essa água subterrânea a vida também seria muito mais difícil para todos.
5.2.6. Conforto térmico¶
Este benefício é lembrado por todos no verão, e no inverno, dependendo de onde você se encontra e de que árvore estamos falando. As árvores sombreiam as edificações, as ruas e as calçadas. Desta forma estas estruturas de material mineral (i.e., cimento, cerâmica, ferro, pedra...) não absorvem calor do sol que por sua vez não é irradiado de volta aos habitantes. Ou seja, as árvores esfriam as cidades minimizando o efeito de ilha de calor, tão conhecido e temido nas grandes metrópoles. Além disso, a sombra também é saudável para nós humanos, já que nos protegem dos raios ultra-violeta responsáveis por muitos casos de câncer de pele.
Já no inverno, aqui em Ivoti, quando falamos de árvores caducifólias (aquelas que perdem as folhas na estação fria), podemos aproveitar melhor o sol, se beneficiando das vantagens de ambas as estações, a sombra no verão e o sol no inverno. Além disso podemos ainda contemplar a mudança de cores das folhas destas árvores, o que hoje também é um dos motivos que atraem turistas para a região.
5.2.7. Produção de oxigênio¶
Assim como as algas nos oceanos, a vegetação nos continentes também é responsável pela produção de oxigênio no planeta. Esse benefício é tão óbvio que nem precisava estar aqui. Mas justamente porque é óbvio é que costuma ser o mais esquecido. Toda árvore é um ser vivo produzindo oxigênio durante o dia. Isso é ótimo pois é justamente o gás que precisamos o tempo todo na ordem de umas 12 a 20 inspiradas por minuto. As árvores literalmente provém essa substância sem cobrar nada. Em troca, nós, e conosco todos os animais da cidade, estamos dando a elas o gás-carbônico de nossa respiração.
Esse benefício não pode ser subestimado numa cidade onde há intensa movimentação de veículos queimando combustíveis e emitindo grandes quantidades de gás-carbônico para a atmosfera.
5.2.8. Absorção de gás carbônico¶
Como vimos acima, em contra-partida ao benefício anterior tem este aqui também que não é menos fundamental, pois é justamente absorvendo o gás-carbônico do ar que as árvores crescem. De certa forma você pode imaginar o gás-carbônico virando folhas e galhos na forma de celulose. Seria um planeta bem desagradável se não existissem esses seres vivos fazendo este serviço. Portanto, as árvores em crescimento também são responsáveis pela fixação de carbono que atualmente está presente em excesso na atmosfera. Quanto mais árvores de ampla longevidade e grande porte plantarmos, maior será a remoção de gás-carbônico da atmosfera.
5.2.9. Retenção de poeira¶
Além de minimizar a poluição pela absorção de gás-carbônico da queima de combustíveis fósseis, por exemplo (i.e., gasolina, óleo diesel), como se não bastasse, as árvores também retém poluição causada pelas emissões de particulados na atmosfera (poeira) na superfície de suas folhas, poeira esta que muitas vezes contém inclusive metais pesados. Você já se perguntou para onde vai o material que desgasta da pastilhas de freios dos automóveis? E as cerdas das vassouras plásticas? Infelizmente nosso mode de vida produz muita poluição também microscópica que se transporta pela atmosfera e pela água.
Da mesma forma que as janelas, bancadas e móveis em nossas casa ficam empoeirados, as árvores retém poeira que é lavada pelas chuvas. Também por esta razão sentimos o ar mais puro na floresta. Existem estudos que inclusive estimam quantas miligramas de poeira ficam retidas por centímetro quadrado de folha em diferentes espécies de árvores. Algumas espécies de árvores limpam o ar mais do que outras.
5.2.10. Fragrância¶
Quem conhece o cheiro do manacá-cheiroso, das laranjeiras floridas, do jasmim-manga e dos ipês sabe quão agradável é a floração destas espécies. A fragrância das flores de espécies arbóreas ainda é pouco explorada no planejamento urbano da arborização, mas pode se tornar atrativo turístico quando bem desenvolvida. Para tanto a copa das árvores precisa ser bem conduzida e as podas realizadas no tempo e método certos para que possam florescer. Dependendo a densidade e condições das árvores, pode-se inclusive pensar no dia da fragrância, divulgar o efeito e esperar os visitantes a procura da experiência de respirar um ar perfumado pelas ruas.
Não obstante precisamos considerar ainda as plantas epífitas, aquelas que crescem por sobre as árvores que também exalam suas fragrâncias, principalmente as orquídeas.
5.2.11. Redução da força dos ventos¶
Esse benefício da arborização urbana talvez seja o mais desprezado ou mal entendido de todos. Isso porque é evidente que ventos fortes também podem quebrar galhos ou árvores inteiras. Nesse momento as pessoas não costumam se lembrar da energia que foi absorvida naquele momento em que uma árvore caiu ou quebrou, mas do risco e danos que a queda ou quebra de galhos pode causar. No entanto é substancial a redução da força dos ventos nas cidades bem arborizadas. O convívio com este risco está discutido na seção Dificuldades de Convívio.
5.2.12. Barreira sonora¶
As árvores respondem por significativa redução de barulho nas cidades, especialmente se combinadas com paisagismo arbustivo, ou se dispostas em uma faixa larga de vegetação. Assim como um estúdio de gravação possui forração nas paredes com material de superfície irregular, que evita a reverberação, também as árvores causam efeito semelhante, impedindo que o som se propague com facilidade, ou ecoe pelas paredes das edificações. A vegetação de praças, parques e margens de rodovias também reduz a poluição sonora. Por isso é muito importante planejar a urbanização de forma a evitar a ocupação integral do território com edificações e pavimentação, pois essa cultura de ganho de capital a qualquer custo reduz a qualidade de vida dos habitantes.