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5.5. ARBORIZAÇÃO URBANA EM IVOTI

De modo geral, em Ivoti, assim como em diversos municípios da região da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, em vista dos diversos outros problemas da gestão pública municipal (e.g., saúde, segurança, saneamento, educação, desenvolvimento econômico, etc.), é de praxe deixar a escolha e localização das árvores nas calçadas para os moradores das residências onde estas árvores terão maior influência direta. Desta forma, acaba sendo cada morador que, com seus conhecimentos e habilidades, escolhe o que plantar e como cuidar de 'suas' árvores - quando isso efetivamente acontece.


Por um lado essa prática em curto prazo parece diminuir os custos com implantação e manutenção da arborização urbana. Por outro, o resultado final não se torna necessariamente atraente, e muitas vezes desastroso. Se contabilizarmos as perdas na estética e na manutenção do acervo botânico que indiretamente compromete o turismo e impõem outros custos sobre a gestão, é muito provável que essa prática custe bem mais caro para o município. Ou seja, deixar os moradores fazerem o serviço sem quaisquer orientação e não estimular a gestão participativa tem consequências, que veremos logo abaixo.


É importante ressaltar no entanto, que muitos moradores possuem amplo conhecimento do assunto e se dedicam à estética das árvores nas calçadas em frente a suas propriedades. Cabe à administração pública aproveitar esse recurso promovendo a iniciativa do cuidado voluntário, oferecendo aprimoramento da capacidade já disponível para alcançar uma visão comum entre os moradores. Com meios de persuasão e educação, possibilita-se assim espalhar o que é bonito na frente da casa de alguém para toda a rua.


5.5.1. Escolha da estética

De modo geral o cérebro dos seres humanos opera de forma ávida à detecção de padrões e formas. Também na arborização urbana, o belo e harmonioso geralmente está constituído de equilíbrio nas formas, cores e texturas, com padrões de repetição ou alternância, como em qualquer situação gráfica. Há que se encontrar o belo naquilo que se reconhece. A desordem, a bagunça exige mais do observador que acaba por se desinteressar. No entanto, é importante entender, que a diversidade pode ser arranjada de forma criativa.


Duas áreas bem arborizadas de Ivoti

A imagem da esquerda demonstra conhecimento da importância da arborização urbana na calçada. Quem plantou estes ipês-amarelos escolheu a espécie, o distanciamento, e os nichos de solo para cada árvore ideais. Já as árvores da rotatória no Jardim do Alto apresentam diversidade com estética, apesar de estarem necessitando de poda de elevação de suas copas.

Quando cada morador planta o que quer e cuida destas árvores quando quer, ou quando e como o convém, torna-se muito difícil identificar qualquer harmonia visual numa rua arborizada desta maneira. Há misturas esquisitas de tamanhos, formas, cores, podas, vegetação complementar nos canteiros e etc. Não há como se perceber o conjunto da obra pois está tudo acontecendo separadamente, e de forma desconexa. Raramente alguém que circula pela primeira vez numa rua arborizada desta maneira ficará impressionado pela beleza, ou mesmo perceberá qualquer coisa muito distinta ali. Isso é lamentável para um município com o potencial turístico de Ivoti.


IMPORTANTE

Quando a arborização das calçadas é deixada ao critério de cada morador, e quando estes não convergem para um projeto comum, o resultado costuma ser desastroso para a estética e para o manejo da arborização urbana, incorrendo em prejuízos para o município.


Logicamente quem mora e convive com este visual possivelmente já não mais o percebe, até porque na ausência de algo melhor, a própria comparação fica prejudicada. E assim, a relação que os moradores desenvolvem com a arborização se limita àquelas poucas árvores que se encontram imediatamente na frente de seu imóvel. É o que todo mundo faz e o hábito se perpetua.


Esquina bem arborizada em Ivoti

Esta rua, e em particular a esquina, dada a ausência de fiação, poderia estar melhor arborizada.

Com o interesse e participação da população na arborização urbana, seja propondo e realizando soluções ou permitindo que estas sejam definidas pelo poder público sem causar maiores conflitos, surgirão alternativas de comum acordo sobre a harmonia que desejam para sua rua ou bairro. Certamente istro trará valorização aos imóveis e qualidade de vida.


Não havendo este comum acordo, cabe ainda ao município primar pelo interesse público expresso na legislação (e.g., Plano Municipal de Arborização Urbana e Plano Diretor) executando o trabalho com vistas ao bem estar e à prosperidade econômica do município.


5.5.2. Escolha das espécies

Além dos problemas estéticos, como muitos moradores ainda não sabem exatamente o que plantar, utilizam referências conhecidas na família ou entre os vizinhos, observando o que já existe por aí. Casos como esse levam as pessoas a plantarem espécies exóticas invasoras como a Canela da Índia (Cinnamomum verum) e o Ligustrum (Ligustrum japonicum) - espécies extremamente prejudiciais às formações florestais nativas do RS.


Exemplares de Ligustrum japonicum

Estas árvores são da espécie Ligustrum japonicum. Trata-se de uma espécie exótica muito comum e invasora das formações florestais do RS. Isso significa que ela se prolifera com muita facilidade homogeneizando as florestas. Esse problema já está completamente sem controle em alguns municípios do estado

Essa é uma prática tão disseminada que é difícil NÃO encontrarmos mudas destas árvores à venda nas floriculturas locais, quando na verdade sua comercialização já deveria ser proibida, tamanho o impacto ambiental poluente destas espécies. Este é outro aspecto que precisa ficar esclarecido no Plano Municipal de Arborização Urbana.


IMPORTANTE

Antes de plantar qualquer árvore na calçada, é preciso saber muito bem o que plantar e onde plantar para evitar erros que poderão se estender pelo tempo de longevidade da árvore.


5.5.3. Manejo inadequado

Como se não bastassem os erros na escolha das espécies, os mesmos erros ocorrem no manejo, predominando o rebaixamento de copa anual, ou mesmo a poda radical anual, o que compromete o desenvolvimento biológico e estético da grande maioria das árvores. Além desta prática anual, há os casos isolados de corte raso ou de remoção completa da copa pelos mais diversos motivos (e.g., a árvore impede a visualização de placas publicitárias, suja a calha, simplesmente alguém não gosta da árvore, etc.). Desta forma um único morador poderá causar um desastre estético à rua toda, o qual não haverá remediação a curto prazo, haja vista o tempo de crescimento das árvores.


IMPORTANTE

Antes de podar uma árvore na calçada, certifique-se de que você tem autorização do município e tenha certeza do que será feito e porque. Planeje o corte e o trato pós-poda para assegurar o bom desenvolvimento da árvore.


Resultados da poda radical em Ivoti

Muito provavelmente algum incidente ou o receio de alguns moradores de que estas árvores pudessem causar danos ao patrimônio justificou a poda radical. Os resultados deste tipo de poda, quando não matam a árvore, são esteticamente um desastre. Além disso a resposta da árvore é o rebrotamento intenso necessário para equilíbrio metabólico. Cada broto vai se tornar um galho cuja base será mais frágil e poderá quebrar ao vento. A poda radical condena à árvore a manejo periódico, onerando o gerenciamento da arborização urbana. Fonte: Biólogo Fernando Soares

5.5.4. Localização das árvores

Na falta de um plano municipal de arborização que especifique que árvores plantar em cada situação e com quais distanciamentos específicos dos equipamentos urbanos e das árvores entre si, ocorre toda sorte de problemas e conflitos visuais, com o trânsito, e principalmente de circulação nas calçadas. Veremos esta questão com mais detalhes na seção Planejamento.


Há moradores que preferem mais árvores e moradores que simplesmente não gostam de árvores nas calçadas. Os primeiros costumam plantar mais árvores do que realmente cabem nas calçadas, não se atendo ao distanciamento ideal entre elas. O Segundo, se possível, já opta por remover as árvores todas. Já ocorreram casos em que em resposta a um indeferimento de autorização para o corte o requerente optou por danificar a árvore aos poucos, enquanto ninguém está vendo, para que esta árvore morresse aos poucos, impondo ao município a necessidade de removê-la. Tal atitude é ofensiva não apenas para a árvore, mas para toda a comunidade, já que se trata de um direito difuso, de um bem comum.


Calçada sem arborização urbana em Ivoti

Nesta imagem vemos calçadas largas o suficiente para abertura de nichos e plantio de mudas.

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