6. PLANEJAMENTO
6.1. OS PILARES DA ARBORIZAÇÃO URBANA¶
Para o bom planejamento da arborização urbana é preciso se ater aos pilares que a sustentam. Aqui são tratados os aspectos que influenciam diversos fatores do ambiente urbano e que, sem consideração aos mesmos, a arborização urbana tenderia a falhar ou se precarizar.
LEMBRE-SE DISSO:
A ARBORIZAÇÃO URBANA PRECISA CONTAR COM:
- Orçamento municipal específico
- Um estudo ou inventário florestal urbano
- Equipe de profissionais capacitados
- Equipamentos suficientes
- Sistema de controle de demandas
- Suporte legal
- Conhecimento sobre a biologia das árvores
- Conhecimentos sobre a cultura local
6.1.1. O orçamento municipal¶
Qualquer bom plano necessitará de recursos para ser executado. Ainda que se consiga a participação da população no embelezamento e cuidados de uma cidade (atividade que por si só também demanda recursos), o fato é que sem um orçamento municipal para a arborização urbana, que possa dar conta da contratação de pessoal capacitado, utilizando equipamentos e insumos adequados, de nada servirá escrever sobre o assunto, ou consultar um manual. Há que se ter força de trabalho contínua para a execução dos serviços que os cuidados com a arborização urbana demandam. Não é uma questão de esperar que a população faça a demanda, pois esta vem do próprio estado em que se encontra a cidade, isto é, das árvores como se apresentam, ou da falta delas. É preciso ter iniciativa de se executar o que é melhor para uma cidade com potencial turístico enorme, como Ivoti.
Portanto, o legislativo e o executivo precisam estar atentos para essa parcela orçamentária da administração municipal. Se não existe orçamento para a arborização urbana, isto já é um sinal de que o controle sobre este aspecto da gestão está deficitário.
6.1.2. Informações sobre o estado atual da arborização urbana¶
Para o bom planejamento, execução e gestão da arborização urbana é fundamental contarmos com conhecimento e informações úteis para a tomada de decisão, isto é, intel. Por isso, no início de qualquer planejamento está a coleta destas informações. No caso em pauta, precisamos levantar dados sobre as questões que elencamos abaixo.
6.1.2.1. O inventário florestal urbano¶
O inventário florestal é a elaboração de um banco de dados de todas as árvores existentes no município. Para cada uma registraremos a espécie, dados dendrométricos (e.g., altura, espessura do caule, diâmetro da copa, etc.), condição fitossanitária, visual estético, condições ambientais do local e a devida localização da árvore no município. No início a dimensão dessa tarefa assusta e vai parecer um trabalho sem fim, mas dependendo da quantidade de árvores, este trabalho pode ser feito em poucas semanas apenas com dois servidores municipais. Uma vez feito, será extremamente útil por muitos anos. É um investimento em qualidade de informação relevante para a gestão ambiental do município. Esses dados devem estar preferencialmente disponíveis em meio digital, com visualização quantitativa e espacial (i.e., em mapa) para facilitar o atendimento às demandas e o planejamento futuro.
Além disso, o inventário florestal também visa identificar as áreas que ainda estão carentes de vegetação arbórea ou com excesso de vegetação. Depois do orçamento, é o principal instrumento de uma boa gestão da arborização urbana.
6.1.2.2. A equipe de trabalho existente¶
É necessário conhecer quantas pessoas tem atribuição para trabalhar no manejo e gestão da arborização urbana e sob que condições estão empregadas, assim como a experiência ou capacitação que cada uma dispõe. É importante ressaltar que o trabalho de manejo da arborização urbana pode exigir força física, flexibilidade e destreza para subir em árvores com uma motosserra pendurada na cintura. Obviamente há que se considerar os equipamentos de proteção individual para cada uma. Veremos isso mais adiante.
6.1.2.3. Os equipamento e ferramentas disponíveis¶
O manejo da arborização urbana não é tarefa simples de ser executada. Muitas vezes precisa interromper o trânsito, desligar a rede elétrica, isolar a área, utilizar veículo especializado (e.g., guincho, cesto-elevador), ferramentas especializadas (e.g., motosserra, motopoda), e equipamentos de proteção individual (e.g., capacete, óculos, equipamento de escalada). A falta destes impõe carências e riscos sobre a gestão e a logística que precisam ser resolvidas. Por isso enfatiza-se que o município possua equipe e acervo técnico exclusivo para estes serviços. Na seção sobre manejo da vegetação arbórea, veremos quais são esses equipamentos com maiores detalhes.
6.1.2.4. O sistema informatizado de gestão¶
No planejamento da arborização urbana há que se considerar ainda o fluir das demandas da população, isto é, como acompanhar a necessidade por serviços, a coordenação de voluntariado, se houver, a execução destes serviços e a prestação de contas. Isso é normalmente facilitado pela utilização de sistemas de informação digital. Todos envolvidos na arborização urbana precisam saber consultar ou inserir dados neste sistema para mantê-lo atualizado. Sem tal sistema, o município ainda assim precisa ter estabelecido uma boa forma de registro e coordenação para acompanhamento dos trabalhos. Afinal, os recursos são oriundos da população e por isso mesmo há que se poder prestar constas de como foram aplicados.
6.1.3. Suporte legal¶
Em se tratando de bem difuso, de recurso compartilhado, a maneira civilizada de organizar esses múltiplos usos dos benefícios que as árvores no ambiente urbano nos trazem se dá pela normatização, isto é, pelo regramento. Desta forma, cabe ao município estabelecer não apenas o Plano Municipal de Arborização Urbana, mas a política pública, a norma legal que o regirá. Quaisquer conflitos poderão ser amenizados ou sanados pela consulta e aplicação da norma vigente. Não podemos subestimar a importância deste pilar, já que sem ele tanto o poder público quanto a população permanecem desnorteados quanto ao que a comunidade deseja para si própria em termos de convívio com as árvores. Importante estabelecer que a elaboração da norma deve ser feita também de forma participativa, pois são os munícipes que ao final estarão vivendo sob as regras que eles mesmos definirem.
6.1.4. A biologia das árvores¶
Obviamente o bom entendimento da biologia de espécies arbóreas é fundamental para o bom planejamento. Vejamos agora alguns conhecimentos indispensáveis que precisam ser levados em consideração quando planejarmos a arborização urbana municipal.
6.1.4.1. O tempo de crescimento e o metabolismo das árvores¶
Inexoravelmente o planejamento da arborização urbana NÃO pode ser concebido com o espaço temporal de um mandato de governo. Por isso aqui consideramos o tempo como um dos pilares do bom planejamento. As árvores são, em geral, seres vivos com longevidade superior a dos humanos. O planejamento da arborização urbana precisa ser de longo prazo. Aqueles que se envolverão no início do processo possivelmente não colherão os resultados de conforto e estética planejados. Isso precisa estar claro não apenas para o grande esquema, projeto ou plano municipal, mas para cada árvore que necessitar de manejo. O tempo de crescimento das árvores é relevante para o planejamento.
Mais adiantes neste manual veremos diversos fatores de suma relevância para o planejamento da arborização, cada um com suas particularidades de tempo e espaço na transformação do ambiente urbano.
6.1.4.2. As características morfológicas das árvores¶
Logicamente o planejamento da arborização urbana tem a ver com o embelezamento da cidade. Por isso é preciso conhecer as diferentes formas da copas, dos padrões de ramificação, das texturas do caules e das folhas, dos portes, das cores e alterações destas características ao longo do ciclo vital das árvores, enfim tudo aquilo que diz respeito à beleza. É muito comum buscarmos arranjos com árvores distintas por ruas, praças, ou bairros inteiros. A variedade de espécies brasileiras e exóticas é enorme. Podemos contar com coníferas, palmeiras, árvores sempre-verdes, etc.
Planejar a arborização urbana envolve muito pensar sobre o que vamos colocar onde e porque. Obviamente, podemos deixar em aberto para que cada morador decida o que quer colocar na frente de seu imóvel, mas as chances desta alternativa acabar em desarmonia visual é grande. Por isso, recomenda-se consultar profissionais da área que possuem alguma qualificação relacionada à arte (e.g., arquitetos urbanistas), em conjunto com profissionais que conhecem botânica (e.g., biólogos, agrônomos, engenheiros florestais).
LEMBRE-SE
A simetria não é estranha à natureza. Os padrões e repetições que na matemática são conhecidos como fractais são intrínsicos aos seres vivos. Mesmo a assimetria, quando perceptível, traz harmonia visual ainda que sutil. Muitas vezes não sabemos explicar porque uma rua arborizada está mais bonita que outra, mas geralmente encontramos a beleza no equilíbrio das formas. Mesmo a floresta apresenta seus próprios padrões. Por certo a mistura desordenada traz no mínimo a indiferença. E essa indiferença às árvores do meio urbano tem sido a experiência de muitos habitantes nos municípios da região.
6.1.4.3. A interação com a energia solar¶
Além do tempo como fator primordial no planejamento da arborização urbana é preciso considerar o sol, ou melhor, a orientação solar, especialmente em locais de ampla latitude. Isso porque as estações do ano serão bem marcadas e o sol irradiará a cidade em ângulos distintos, sendo primordialmente desejado no inverno e abominado no verão.
Na latitude em que se encontra o município de Ivoti esse aspecto é fundamental ser levado em consideração. Se quisermos menos insolação no verão e mais insolação no inverno nas edificações do centro da cidade, devemos considerar o uso de árvores caducifólias (e.g., nativas como os ipês e os jacarandás, ou exóticas como os plátanos e os ácers), isto é, que perdem as folhas no inverno. Estas, quando possível, devem ser dispostas nas calçadas ao norte das edificações.
6.1.5. As relações culturais¶
Na administração pública em especial, considerar as tradições, a cultura local da comunidade é fundamental, não apenas por uma questão política, mas por uma questão de promoção do bem estar social. As pessoas possuem raízes culturais, relações familiares e ambientais que são históricas, complexas e muitas vezes subliminares. Isso não pode ser ignorado no planejamento da arborização urbana.
6.1.5.1. A estética¶
Ivoti é uma cidade primariamente de colonização alemã. É natural que se encontrem feições germânicas na sua arquitetura, na sua culinária, na música entre outras manifestações culturais. Essa cultura também se manifesta na escolha da estética dos jardins, das espécies cultivadas e logicamente das árvores. Então veremos espécies como o Pinheiro Alemão, o Cipreste e o Plátano crescendo um praças e calçadas.
6.1.5.2. A história¶
O nome da cidade originou da referência feita às colinas floridas na região. Há uma predisposição natural para o ajardinamento. As flores são notadas e apreciadas. Assim, há que se fazer uso deste aspecto da cultura local buscando espécies arbóreas que com valor florístico, por exemplo. A imigração alemã trouxe consigo suas espécies arbóreas preferidas. Um exemplo clássico da cultura local que já é sucesso nacional são os plátanos e a variedade de cores que a sua folhagem adquire ao longo do seu ciclo de vida. O conhecimento destes aspectos da história é extremamente relevante para caracterização da arborização urbana do município.
6.1.5.3. A afetividade¶
Talvez um dos aspectos mais difíceis de gerenciar na arborização urbana é a afeição que os munícipes podem sentir em relação as árvores que estão imediatamente na frente de suas casas, isto é, àquelas cuja facilidade de observar e acompanhar diariamente o seu crescimento, acabam por fazer parte de suas vidas. A vasta maioria dos conflitos de gestão da arborização urbana ocorrem na interação entre as árvores dos passeios públicos os desejos dos munícipes. São áreas de domínio público cuja arborização tem influência no sistema de trânsito de veículos e pedestres, entre outras influências.
Nesse sentido, cabe ao morador da residência imediatamente à frente das árvores em disputa entender que a administração pública, cuja responsabilidade é direta sobre aquelas árvores, precisa primar pela supremacia do interesse público. Isso significa que o interesse dos indivíduos vem depois do interesse coletivo, ou que as necessidades do indivíduo não são prioridade frente as necessidades da coletividade. Isso pode ser difícil de engolir porque precisa um exercício de reflexão sobre como interagimos uns com os outros, sobre o que vale mesmo a pena brigar e o que podemos nos acomodar.
Mas como identificar qual é o interesse da coletividade? Onde está esse interesse? Quem é a coletividade? Ora, de modo organizado e sem hesitação dizemos que está na legislação, nas normativas, naquelas regras escritas e aprovadas pelos representantes da população municipal, isto é, os vereadores. Portanto o interesse público no que tange a arborização urbana está explícito na política municipal de arborização urbana e no plano municipal de arborização urbana, ambos aprovados pelos representantes da coletividade. Mas se estes documentos não existem, esse é o primeiro problema que deve ser resolvido.
Por isso a importância de se definir uma política municipal de arborização urbana. É sobre essa política que devem estar calcadas as decisões dos servidores públicos e dos indivíduos, também nesses casos. Logo, mesmo que haja um sentimento de afeição, e mesmo de posse, o munícipe precisa entender que a árvore ali exerce um fim social que vai além de sua vontade individual.