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6.4. PLANEJAMENTO DA DIVERSIDADE ARBÓREA

Uma forma de organizarmos o planejamento da diversidade de espécies arbóreas para a arborização de um município é quanto à natividade das espécies. Nesse caso dividimos a gama de opções em espécies nativas e espécie exóticas. Ambas as categorias podem ainda ser divididas em muitos outros grupos funcionais, taxonômicos, ou mesmo por conveniência. Para esse manual, o que é importante e entender bem estes dois conceitos e prestar atenção no que espécies de árvores exóticas podem influenciar nas formações florestais naturais da zona rural do município. Por isso, dividimos as exóticas também em exóticas-invasoras. Vejamos algumas diferenças entre elas.


6.4.1. Diversidade de espécies nativas

Dizemos que uma árvore é nativa do RS se ela for de uma espécie cuja ocorrência se dá por meio da dispersão natural da espécie sem influência do ser humano, isto é, sem que este a tenha trazido para o local. A vasta maioria destas espécies já existia na região antes dos europeus trazerem suas culturas. É certo que os índios também ajudaram a dispersar sementes entre as diversas bioregiões do Brasil. Mas a distinção entre exótica e nativa se faz mais evidente em se tratando de espécies trazidas pelos colonizadores europeus.


Essa informação é importante poque as espécies nativas são espécies que evoluíram naturalmente e hoje se encontram muito bem adaptadas. Essas espécies são mais resistentes e possivelmente menos problemáticas para a manutenção, pois estão acostumadas aos regimes de chuvas, insolação, ventos, interações ecológicas com a fauna e às características do solo.


De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, se tomarmos a Carta de Caxias do Sul (SH-22-V-D) e o Manutal Técnico da Vegetação Brasileira como referências, ambos documentos desenvolvidos por esta renomada instituição, a formação florestal predominante na região de Ivoti é a Floresta Estacional Decidual Submontana, ou floresta tropical caducifólia que ocorre nas região logo ao pé da serra geral.


Carta de Caxias - Mapa da vegetação feito pelo IBGE

Os mapas de vegetação brasileira elaborados pelo IBGE possuem informações relevantes para o planejamento regional, incluindo topografia, hidrografia e as formações de vegetação. Fonte: IBGE - Carta de Caxias, RS

No entanto, a deciduosidade das matas brasileiras se dá principalmente pela ocorrência de períodos secos, de estiagem, e em segundo plano, pela ocorrência de frios extremos nas regiões mais altas. Como a região de Ivoti não apresenta nenhuma destas características (períodos longos de estiagem ou de frio muito intenso), existem muitas espécies arbóreas na região que conseguem manter suas copas sem perder totalmente as folhas. Por isso, o consenso entre os botânicos do RS que vêm estudando a região há décadas, é de que a mata desta região tem características semidecíduas.


Neste manual, consideraremos a formação florestal predominante de Ivoti como a Floresta Estacional SEMIDECIDUAL Submontana. Estacional, porque apresenta período de crescimento lento ou estacionado (inverno), semidecidual porque 40 a 60% das espécies arbóreas nativas mantém suas folhas no período estacional, e submontana porque se encontra ao pé da serra geral.


Mas porque isso é importante? Ora, porque definido isso, podemos contar agora com o Inventário Florestal Contínuo do RS, elaborado pela Universidade Federal de Santa Maria que estabelece os índices de riqueza de espécies para cada tipo de formação florestal, o que nos dará a lista de árvores nativas mais abundantes.


Se quisermos planejar a arborização urbana com espécies nativas minimizando as necessidades de manutenção, dadas as dificuldades de adaptação da espécie ao clima e solos do município, escolheremos estas espécies indicadas no referido inventário. Obviamente, como vimos acima e continuaremos a ver mais adiante, existem outros tantos fatores que precisam ser considerados no planejamento, e por isso mesmo também utilizaremos espécies exóticas. Aliás, existem exóticas que se deram tão bem na região que hoje são consideradas invasoras.


IMPORTANTE

No Catálogo de Espécies, capítulo 9, você encontrará uma lista das espécies mais recomendadas para arborização urbana de Ivoti que considera os fatores acima.


De acordo com o website Flora Digital da UFSC, para o RS e SC juntos, existem mais de 500 espécies de árvores nativas. Dada a forte influência da colonização alemã na região de Ivoti a arborização urbana do município faz uso de muitas espécies exóticas, as quais veremos agora.


6.4.2. Diversidade de espécies exóticas

Não podemos ignorar a beleza de algumas espécies exóticas trazidas ao longo da história da região que vieram a fazer parte da arborização urbana de muitos municípios da região, não apenas Ivoti. Aqui podemos citar a Delonix regia (Flamboyant) originária da França, e a Callistemon rigidus (Escova-de-garrafa) originária da Austrália. Outras tantas espécies estão listadas no catálogo que acompanha este manual.


O que é importante para o planejamento da arborização urbana, é reconhecer que o trânsito livre de espécies, e muitas vezes ingênuo, isto é, a dispersão destas espécies realizada pelo ser humano sem qualquer critério de conservação da biodiversidade pode trazer consequências graves aos ecossistemas locais. Estamos mais acostumados a observar isso na agricultura, no plantio de espécies economicamente importantes para a produção de alimentos e insumos, na produção de pasto ou no cultivo de gramas para o jardins. Quem nunca ouviu falar de pega-pega (Desmodium adscendens), mamona (Ricinus communis), e picão-preto (Bidens pilosa)? Três espécies exóticas para o RS que infestam terrenos baldios urbanos.


O mesmo ocorre com espécies arbóreas tais como o ligustro (Ligustrum japonicum), o pinheiro-americano (Pinus elliottii), a uva-do-japão (Hovenia dulcis), e a canela-da-índia (Cinnamomum verum ). Estas quatro espécies de árvores tem capacidade para tomar conta das formações florestais nativas, homogeneizando a vegetação arbórea e comprometendo a subsistência de outras espécies da flora e da fauna. São inços arbóreos que devemos evitar na arborização urbana e inclusive controlar a dispersão na zona rural dos municípios.


Frutificação de Uva-do-japão

Frutificação de Uva-do-Japão (Hovenia dulcis). Esta espécie tem ocupado a floresta estacional semidecidual do pé da serra gaúcha descontroladamente, modificando completamente a fitofisionomia, e assim suas relações ecológicas. Não sabemos o alcance das consequências mas visualmente em algumas regiões se tornou óbvia a homogeneização da floresta. Fonte: Coisas da Roça

Folhas de Canela-da-Índia

Folhas de Canela-da-Índia (Cinnamomum verum). Outra espécie prolífera que tem ocupado as matas periféricas aos centros urbanos da região do pé da serra. Muito apreciada por sua sobra, e por isso mesmo muito comercializada nas floriculturas. Fonte: Wikipedia

IMPORTANTE

Ao planejar a diversidade de espécies na arborização urbana, dê preferência às espécies nativas da região, especificamente da micro-região ou bacia hidrográfica em que se encontra o município. Ao escolher espécies exóticas, nunca utilize ou promova o plantio de espécies exóticas-invasoras, pois a longo prazo, poderão se tornar um problema sem solução.


6.4.3. Diversificar ou plantar a mesma espécie?

Uma rua arborizada com uma única espécie facilita a manutenção, já que o ciclo vital será o mesmo. As folhas, flores e frutos aparecerão e cairão na mesma época. A poda de conformação das copas pode ser acelerada, e ajustada para um visual específico com facilidade. Isso causa um impacto positivo do ponto de vista estético, pois o padrão é de fácil detecção.


Uma rua arborizada com uma única espécie também acaba servindo de referência na cidade, se incorporando culturalmente ao "endereço" do local. Mas há uma desvantagem significativa.


Numa rua arborizada com uma única espécie, caso houver a infestação de um inseto, ou parasita em uma única árvore, e caso esta infestação não seja observada no início de sua ocorrência, em pouco tempo a rua inteira poderá sofrer com a infestação, tornando o manejo extremamente oneroso. Por isso a importância do acompanhamento visual periódico e frequente.


Rua com árvores da mesma espécie

Uma rua arborizada com a mesma espécie facilita a percepção de forma conferindo uma estética geralmente mais agradável aos olhos do que uma rua diversificada. Fonte: Pensamento Verde

Rua com espécies diferentes

Uma rua arborizada com espécies diferentes pode acomodar situações como esta: de um lado da rua passa a fiação, e portanto ali é conveniente o plantio de árvore de pequeno porte. No caso acima foram plantadas palmeiras que, embora levarão um bom tempo até alcançarem a fiação, são espécies que não permitem a poda apical, isto é, o rebaixamento da copa pois são de crescimento monopodial. Estas palmeiras necessitarão manejo frequente quando suas folhas alcançarem a altura dos fios, ou precisarão ser transplantadas.

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