7. GESTÃO E MANEJO DA ARBORIZAÇÃO URBANA
7.1. GESTÃO OU MANEJO?¶
Primeiramente é preciso entender a diferença entre a gestão, ou gerenciamento da arborização urbana, e o manejo do acervo florestal urbano. São coisa similares, mas com algumas diferenças cruciais para a administração pública estruturar sua equipe, suas máquinas, seu espaço de trabalho, suas obras e seu modo de operar.
Por gestão da arborização urbana nos referimos ao atendimento ao público e ao acompanhamento das demandas que possam surgir para os serviços envolvidos. Incluímos ainda as rotinas de trabalho, o cronograma de serviços, a tramitação de documentos, a aquisição de mudas, a coordenação de voluntários e as implicações financeiras da dinâmica administrativa da arborização urbana. Obviamente dentro da gestão da arborização urbana existirão práticas de manejo das mudas, dos canteiros destinados às árvores, e o manuseio das árvores em si.
Portanto o manejo é uma sub-categoria operacional da gestão. É o trabalho diretamente relacionado à planta, o manuseio do ser vivo que é a árvore. O manejo envolve plantio, poda, transplante, supressão, rega, tratos culturais, cuidados especiais e o que for preciso para manter a melhor funcionalidade, a melhor saúde e a melhor estética da arborização urbana no município.
7.1.1. Gestão da arborização urbana¶
Para uma boa gestão da arborização urbana o município precisa considerar o panorama todo do perímetro urbano e estabelecer rotinas de trabalho que cortarão custos significativos e simplificarão o entendimento da gestão para os munícipes. Isso acarreta em menos demandas aleatórias e possivelmente facilita o engajamento de voluntários de maneira mais eficaz.
Ao considerarmos a gestão da arborização urbana, precisamos considerar quem vai fazer o quê, que recursos materiais necessitarão para trabalhar, quando e onde devem ser realizados os serviços, como e porque estes serviços devem ser realizados. Veremos a importância de cada um.
7.1.1.1 Recursos humanos¶
Na gestão precisamos pessoal para se responsabilizar pelo atendimento ao público, pela organização de documentos, pela distribuição de serviços, e principalmente para execução dos diferentes tipos de manejos necessários. Para um município como Ivoti, sugere-se no mínimo quatro pessoas exclusivamente alocadas para a arborização urbana, sendo:
PROFISSIONAL | FUNÇÕES E QUALIFICAÇÕES |
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Coordenador | um responsável pela coordenação da gestão que possa ter acesso ao sistema digital de atendimento e aos cadastros, tanto das árvores como dos voluntários, se houver, e que possa rodar a cidade com frequência identificando os serviços que precisam ser feitos |
Arborista profissional | um ou dois profissionais capacitados e certificados para trabalho em altura, com experiência nas técnicas de manejo vegetal, especialmente de árvores de grande porte |
Auxiliar | duas pessoas auxiliares para os serviços no solo, de apoio ao arborista e de manejo do material vegetal resultante do manejo. Estas pessoas precisam ser capacitadas e experientes do uso de ferramentas e máquinas utilizadas no manejo vegetal |
7.1.1.2 Recursos materiais¶
Os recursos materiais podem ser divididos em ferramentas manuais, ferramentas motorizadas, máquinas agrícolas, veículos especializados, insumos, equipamentos de proteção individual, equipamentos de proteção coletiva, equipamentos especiais de diagnóstico e software de gestão da informação.
Ferramentas manuais:¶
De um modo geral, as ferramentas manuais utilizadas em jardinagem também serão úteis no manejo da arborização urbana. Mas hoje existem ferramentas mais especializadas que não podem faltar no acervo (e.g., podão-de-vara ou extensor). A lista abaixo não esgota as possibilidades, dado que esse é um mercado em constante aprimoramento.
Ferramentas | Funções |
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Cavadeira | covas esporádicas e plantio de mudas menores onde o solo não está excessivamente compactado |
Enxada | capina básica de remoção da cobertura vegetal dos canteiros onde serão realizadas as covas, e para mistura dos insumos substrato |
Pá de corte | alargar e auxiliar na escavação das covas |
Pá de concha | auxiliar no manejo do substrato |
Carrinho de mão | transporte de mistura do substrato |
Picareta | remoção de pedras e pavimentos |
Tesoura de poda | poda de ramos mais finos e serviços menores, inclusive em arbustos e arvoretas |
Tesourão de poda | poda de galhos e ramificações furtivas mais grossas, geralmente na periferia das copas |
Podão de vara | poda de galhos e ramificações que não se alcançam apenas com a extensão dos braços |
Facão | NÃO deve NUNCA ser usado na poda, mas no auxílio do manejo do material resultante da poda, para limpar e picar ramos já cortados |
Enxó | para dendrocirurgias onde há necessidade de raspagem de lenho e casca lesada por parasitas ou doenças |
Martelo e formões | para dendrocirurgias que exigem melhor precisão na remoção de partes infectadas |
Trincha | aplicação de impermeabilizante nos cortes e feridas onde o lenho estiver exposto |
Escada extensível | auxiliar na subida em árvores assim como alcançar galhos mais altos sem necessariamente subir na árvore |
Escada dobrável | auxiliar no desbaste de copa de árvores de pequeno porte e arvoretas |
Corda estática | utilizada para içamento e ancoragem de galhos e tocos durante os serviços de supressão ou poda radical |
Corda guia | cordinha e peso utilizados para lançamento de guia para a corda que será utilizada no ascensão do arborista |
Trena of fita métrica | medições de distanciamentos entre equipamentos urbanos e as árvores entre si |
Trena laser | estimativas de altura e distâncias de maneira simplificada |
Ferramentas motorizadas:¶
Como o velho jargão já dizia, "o barato sai caro". Não podemos imaginar o manejo da arborização urbana de uma cidade sem ferramentas motorizadas, sob pena de simplesmente não conseguir cumprir com as demandas existentes. Essas ferramentas são mais caras, mas a curto prazo se tornam a opção mais economicamente vantajosa. Além disso, as ferramentas motorizadas amenizam o esforço manual, ou mesmo possibilitam trabalhos que simplesmente seriam impossíveis de se realizar manualmente hoje em dia na cidade (i.e., tombamento de toras de grande porte).
Ferramentas | Funções |
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Motocavadeira | covas numerosas e plantio de mudas maiores onde o solo encontra-se compactado |
Capinadeira | remoção de cobertura vegetal de longos canteiros de avenidas |
Motosserra | todo tipo de poda e supressão, incluindo cortes de galhos mais grossos e caules |
Motopoda | podas mais periféricas que possam ser feitas sem a necessidade de subir as árvores |
Triturador | triturar galhos e ramos mais finos visando a compactação do material vegetal resultante dos serviços |
Máquinas agrícolas:¶
Por máquinas agrícolas nos referimos àqueles assessórios que se acoplam a tratores, ou máquinas que exijam um operador capacitado e experiente no uso. Servem para realização de serviços grande num curto espaço de tempo.
Máquinas | Funções |
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Destocadeira | remover as cepas e tocos remanescentes da supressão de árvores |
Retroescavadeira | escavação para transplantes, transporte de solo e material vegetal |
Moedor de galhos | triturar galhos e ramificações mais grossas que exigem maior força |
Veículos especializados:¶
Os veículos são normalmente os investimentos mais caros. Assim como as máquinas agrícolas, exigem manutenção especializada. Mas são absolutamente essenciais para o manejo da arborização urbana de uma cidade, especialmente para árvores de grande porte.
Veículos | Funções |
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Tombadeira | Caminhão ou reboque de recolhimento e transporte de solo e material vegetal resultante dos serviços |
Cesto elevatório | Caminhão com cesto para elevação de pessoal à altura das copas das árvores |
Guincho | Caminhão com braço articulado para içamento de árvores de grande porte e auxílio na supressão de árvores de risco |
Pipa | Veículo com tanque de água para regas em caso de estiagem ou de plantio numeroso de mudas |
Insumos:¶
Não podemos pensar o manejo da arborização urbana sem considerar custos com os insumos que, embora não sejam muito variados ne volumosos, são essenciais coadjuvantes que contribuem para o sucesso das intervenções feitas nas árvores.
Insumo | Funções |
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Composto orgânico | enriquecimento de solo |
Calcário | correção do pH onde o solo estiver muito ácido |
Etiquetas | identificação das especies e dos serviços para fins de comunicar aos munícipes e evitar perdas de mudas |
Tutores | preferencialmente de cercamento para maior proteção das mudas, inclusive das roçadas nos canteiros |
Combustível | abastecimentos do maquinário e das ferramentas motorizadas |
Impermeabilizante | cobertura de cortes e feridas onde o lenho estiver exposto para minimizar as chances de infecção |
Equipamentos de proteção individual (EPI):¶
Nada mais inteligente que pensar a segurança dos funcionários em primeiro lugar. O manejo da arborização urbana, especialmente de árvores de grande porte, é de altíssimo risco. Sem EPI e sem capacitação e experiência técnica, as chances de alguém sair ferido são enormes.
EPI | Funções |
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Bota de serviços com biqueira de aço | proteger acidentes com queda de tocos, toras, e ferramentas nos pés dos trabalhadores |
Luvas de serviço | proteger acidentes com espinhos e felpas assim como evitar o manuseio escorregadio do material |
Protetor auricular | proteção auditiva em função do excessivo barulho das ferramentas motorizadas e do maquinário |
Capacete sem abas | proteção à quedas de material ou queda de pessoal, sem perder a visibilidade |
Proteção facial | proteger de lascas, serragem e poeira que pode afetar a visão ou a respiração |
Óculos de proteção | proteção de poeira, serragem e lascas com maior mobilidade em alturas, na copa das árvores |
Cadeirinha de escalador | ancoragem segura no encordoamento para trabalhos em altura |
Corda dinâmica | dar segurança ao arborista em cima da árvore |
Mosquetões | utilizados para encordoamento e manuseio de técnicas de escalada e arborismo |
Ascensores | dar segurança e mobilidade ao arborista quando não há possibilidade de ascendência apenas pelo caule e galhos da árvore |
Freio / Descensores | dar segurança nas descidas durante os serviços de poda e supressão |
Cintas / Cordeletes | amarração de ferramentas e para técnicas específicas de arborismo |
Apito | comunicação emergencial para interrupção de serviços ou atenção a determinadas situações |
Vestuário anti-corte | proteção do corpo para os operadores de motosserra |
Equipamentos de proteção coletiva (EPC):¶
Assim como a proteção daqueles que estão trabalhando diretamente com as árvores é indispensável, há que se considerar ainda a segurança dos transeuntes, curiosos, e do patrimônio das pessoas (i.e., veículos, edificações). Não obstante, os EPCs também dão maior tranquilidade aos trabalhadores.
EPC | Funções |
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Cones de sinalização | facilitar a delimitação do perímetro de segurança para evitar o trânsito de pessoas não envolvidas nos trabalhos |
Fita zebrada | Delinear o perímetro de segurança na ocasião em que houver supressão e/ou tombamento de árvores |
Placa de sinalização | informar os munícipes dos serviços que estão em andamento minimizando demandas e denúncias na administração |
Equipamentos de diagnóstico:¶
Algumas vezes a equipe de arborização urbana irá se deparar com uma decisão controversa em torno de uma árvore de grande porte, ou necessitará embasamento científico para justificar o corte de determinadas árvores. Nesses casos é fundamental contar com instrumentos mais precisos de diagnóstico, que possam dar maior precisão para as estimativas de risco de queda ou de quebra da árvore.
Equipamento | Funções |
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Trado | inspeção das condições do caule, detecção de anomalias ou deterioração do lenho, porém de forma invasiva |
Penetrômetro | inspeção da perda de resistência mecânica no lenho na medida que o instrumento penetra o caule, também invasivo |
Tomógrafo de impulso | inspeção das condições internas do caule por meio de ondas sonoras, não-invasiva |
Tomógrafo de impedância | inspeção das condições internas do caule por meio de corrente elétrica, não-invasiva |
Inclinômetro e elastômero | inspeção de resistência mecânica das árvores de grande porte, não-invasiva |
Software de gestão da informação:¶
Naturalmente é possível organizar todo o trabalho em planilhas do Excel, porém, para simplificar a comunicação e manter todos os envolvidos informados com a mesma informação, recomenda-se o uso de ambiente online, onde o banco de dados possa ser único e todos possam consultar e/ou alterar os dados no mesmo lugar. As planilhas podem estar vinculadas a uma conta no Google, na Microsoft, ou onde for conveniente contar com uma plataforma compartilhada. Porém recomendamos o úso de aplicativos especializados na gestão da arborização urbana, os quais já tem o sistema todo desenvolvido para otimização da gestão, especialmente se estes sistemas possibilitam o uso em dispositivos móveis. A Exati e a Tecnigral são exmplos do que sugerimos aqui.
7.1.1.3. Cronograma¶
Se a arborização urbana estiver bem planejada e implantada conforme o planejado, fica mais fácil estabelecer um cronograma de manutenção. Obviamente depende muito do porte do município. Este cronograma pode ser feito com base na localização das árvores, na taxonomia, no tamanho das árvores, na força de trabalho disponível (i.e., voluntários), no cadastro de demandas já registradas pelos munícipes (protocolos) ou ainda numa combinação deste fatores.
De acordo com a localização:¶
Nesse caso o planejamento do cronograma de manejo e serviços se dá por ruas, por bairros, por praças ou áreas verdes. Dependerá, obviamente, da quantidade de árvores que estarão envolvidas em cada etapa. Essa forma de planejar implica menos deslocamentos com maquinário e veículos.
De acordo com a taxonomia:¶
Nesse caso nos referimos ao planejamento do cronograma de manejo e serviços por espécie arbórea. Essa forma de pensar o planejamento considera que as árvores da mesma espécie estarão no mesmo estágio de seu ciclo vital, isto é, na mesma fenofase.
De acordo com o porte das árvores:¶
Como o manejo de árvores de grande porte é muito mais dispendioso e arriscado, as árvores de grande porte praticamente precisam de um cronograma próprio para elas. São casos em que não será possível dispensar o uso de veículos com guincho e/ou cesto-elevatório, assim como equipamentos de arborismo.
De acordo com o voluntariado:¶
Se houver uma força de trabalho de voluntários expressiva, o cronograma deve deve considerar as agendas dessa equipe de voluntários.
De acordo com as demandas dos munícipes:¶
Havendo um sistema de controle das demandas dos munícipes para o manejo da arborização urbana (registros de protocolos), há que se debruçar por sobre estas demandas e estabelecer um cronograma que dê conta. Obviamente aqui é preciso considerar que muitos pedidos podem e talvez devam ser indeferidos.
7.1.1.4. Comunicação¶
Os serviços de manejo programados nos locais estabelecidos precisa ser pensado antes do deslocamento para o local do serviço. De preferência, o acompanhamento das demandas e o monitoramento das árvores já terá gerado uma planilha de serviços que norteará os próximos passos e datas. Convém ainda que os munícipes que mais interagem com as árvores do local onde ocorrerá o manejo sejam previamente avisados via meios de comunicação, para evitar problemas e reclamações que possam interromper os serviços comprometendo todo o cronograma.
7.1.2. Manejo do acervo florestal¶
De um modo geral, quaisquer que sejam as intervenções que comprometam significativamente a árvore (i.e., podas generalizadas de rebaixamento ou elevação da copa ou podas radicais), a fim de evitar trauma ou choque metabólico que possa levar a árvore a óbito, deve-se optar por fazê-las no período de repouso vegetativo, quando o metabolismo está bastante reduzido, isto é, o crescimento está interrompido ou desacelerado. No RS esse período é o inverno. Em outros estados pode ser a época de estiagem.
O manejo do acervo florestal inclui:
- a produção ou aquisição de mudas;
- o plantio de mudas com suas técnicas específicas, incluindo o tutoramento;
- os diferentes tipos de podas;
- ou cuidados especiais com as condições específicas de cada árvore;
- o transplante e a supressão, ou corte raso, das árvores adultas.
Dado que estas atividades apresentam suas próprias especificidades, veremos tudo isso a seguir nas próximas seções.