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7.2. PRODUÇÃO E AQUISIÇÃO DE MUDAS

O município que não produz mudas ou não estabeleceu plano para aquisição das mesmas provavelmente solucionará o problema da falta de mudas na medida em que este problema se fizer saliente, isto é, de forma errática. Essa prática impõem à arborização urbana uma pressão que atrapalha o planejamento, a gestão e o manejo.


Atrapalha o planejamento porque não sabemos se poderemos contar com as espécies adequadas, os tamanho e o estado fitossanitário que necessitamos para um determinado local. Atrapalha a gestão porque no caso de haver demanda para uma específica situação cuja solução se faz pelo plantio de uma determinada muda, esta poderá não estar disponível. Atrapalha o manejo porque na eventual necessidade de termos que plantar mudas específicas as quais não puderam constar no planejamento, não poderemos programar a atividade no cronograma.


O ideal é contar com um acervo ou estoque de mudas saudáveis, altas, robustas, continuamente atualizado. Essas mudas devem ter um torrão proporcional e rico, devem ter copa bem conduzida, e SEM tutoramento rígido no viveiro, para que o gestor possa escolher o que plantar, onde plantar, e quando plantar, evitando assim as limitações da falta de de mudas. Realçamos que as mudas NÃO tenham tutoramento rígido no viveiro para que desenvolvam caules sem sustentação auxiliar ou artificial exagerada. É importante que o balanço entre massa e estrutura mecânica sejam desenvolvidos pelo próprio metabolismo da planta, exposta ao vento. Do contrário teremos mudas altas, porém com caules finos, muito flexíveis e frágeis. Esta é uma receita para criarmos árvores que quebrarão nas ventanias.


IMPORTANTE

Contrário ao senso comum, recomendamos NÃO tutorar as mudas de forma muito rígida no viveiro e nem deixá-las muito próximas umas das outras. O que se quer, é que as árvores cresçam em sua forma específica e não florestal (vide Árvores são seres vivos). Portanto, precisamos desde o início criar as condições que a planta irá enfrentar quando adulta. Queremos que cresçam fortes, resistam aos ventos, e por isso, devem elas mesmas desenvolverem estrutura mecânica proporcional às forças que estiverem em jogo. O equilíbrio entre massa orgânica e estrutura de sustentação deve ser feito sem auxilio exagerado de sustentação artificial, sem amarração que impeça o movimento do caule. Por isso daremos preferência para o tutoramento em forma de cerca, ou com três estacas que permitem à muda balançar ao vento.


7.2.1. Produção ou aquisição das mudas?

Foge aos propósitos deste manual discorrer aprofundadamente sobre as técnicas de produção de mudas. Há uma variedade de fatores a serem considerados. Esta atividade em si requer suas próprias ferramentas, insumos, equipamentos e instalações que viveiristas profissionais conhecem. Também conta com suas próprias técnicas de gestão e manejo.


Portanto, o que é importante ressaltar aqui é que a produção de mudas para abastecer a arborização urbana, isto é, pública, é diferente da produção de mudas arbóreas para abastecer a demanda do mercado. Neste último o lucro norteará as instalações, as técnicas, a ocupação do espaço e por fim o desenvolvimento das mudas. Não é incomum encontrarmos adensamento excessivo, isto é, mudas muito próximas umas das outras com torrões muito pequenos. Essa é a forma que muitos viveiristas comerciais encontrarão para cortar custos com espaço, insumos e instalações de irrigação.


Se o município puder acomodar a produção de suas próprias mudas arbóreas na administração pública, as chances de se obter mudas mais preparadas para o ambiente urbano serão maiores. Mas se isso não for possível, o município deverá escolher seus fornecedores visitando viveiros, dando preferência para aqueles viveiristas que produzem mudas de ótima qualidade para crescimento da árvore na cidade.


IMPORTANTE

O município deve produzir suas próprias mudas, ou adquirir mudas que foram produzidas desde o início para a arborização urbana. Há uma diferença entre as mudas destinadas à arborização urbana e ao mercado consumidor em geral (e.g., para cumprimento da reposição florestal obrigatória previsto na legislação brasileira).


7.2.2. Qualidade das mudas

Quando falávamos mais acima sobre a importância de darmos preferência para espécies nativas, referíamo-nos àquelas especies já perfeitamente e evolutivamente adaptadas para as condições climáticas e pedológicas da região. A qualidade da muda começa na escolha da espécie. Ao optarmos por espécies exóticas, é importante conhecer o comportamento desta na região, e escolhermos aquelas que já apresentam evidências de sucesso. Jamais escolheremos espécies exóticas com comportamento invasivo (e.g., Pinus, Uva-do-Japão, Ligustrum, Canela-da-Índia,...).


A MUDA IDEAL PARA A ARBORIZAÇÃO URBANA:
  • É de espécie nativa ou exótica não-invasora e igualmente resistente;
  • Tem altura mínima de 2,5m com ramificação apenas acima desta altura;
  • O diâmetro do caule na altura do peito (DAP) tem no mínimo 5cm;
  • A relação entre espessura do caule, altura, e tamanho da copa demonstra capacidade de resistir aos ventos;
  • O torrão é o maior possível, dispensando-se definitivamente aqueles muito pequenos;
  • Não possui raízes expostas, seja acima ou abaixo do recipiente em que se encontra;
  • O caule não está torto ou inclinado em relação à superfície do recipiente;
  • Demonstra que a copa foi devidamente conduzida ao longo da vida da muda;
  • Não apresenta vestígios de danos ao caule;
  • Não possui parasitas, ou evidências de quaisquer doenças ou ainda de infestações de insetos;
  • Não apresenta evidências de deficiência nutricional;
  • Possui tutoramento de condução e não de sustentação permitindo que a muda balance ao vento;

Muda de árvore ao lado de um trabalhador

Quando consideramos a longevidade das árvores numa análise do custo-benefício da aquisição de mudas ideais para arborização urbana, os benefícios superam muitas vezes o custo. (Fonte: © Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig).

Mudas com as características acima são geralmente caras, e com razão, pois estarão provendo as condições ideais para um início otimizado para a vida no meio urbano. Lembre-se sempre da longevidade das árvores. Trata-se de um investimento de longo prazo com retorno garantido, se a gestão for adequada. Por exemplo, se uma muda ideal custa hoje R$200,00, distribua esse custo para os possivelmente 50 anos que essa árvore poderá viver no meio urbano e teremos que o preço da muda adquirida foi na realidade de R$4,00/ano ou 33 centavos por mês. Se multiplicarmos isso por 500 árvores compradas por exemplo, o custo será de 167 reais por mês na compra de mudas perfeitas. Isso não é nada para uma arrecadação como a de Ivoti.


Mudas recém plantadas em Ivoti

Embora a altura desta muda seja relativamente baixa, percebe-se um caule bem formado sem excesso de tutoramento de sustentação. O tutor foi feito com uma estaca robusta e decorada, agregando valor ao conjunto o que também é convidativo para o cuidado. Logo, as chances desta muda se tornar uma árvore adulta são grandes.

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