7.3. COMO PLANTAR ÁRVORES NA CIDADE¶
Plantar árvores na cidade, especialmente em áreas públicas como calçadas e praças é diferente de plantar árvores no seu jardim, espaçoso e tranquilo. Mas do ponto de vista da muda de árvore não é tão diferente assim. Você vai precisar de espaço para o torrão, de solo não-compactado, de rega logo após o plantio, de proteção para a muda recém plantada, mas acima de tudo, precisará do local ideal.
As árvores na cidade fazem parte do jardim da população. Mas nem todos percebem desta forma, ou possuem qualquer interesse nisso. Logo, haverá situações em que mudas serão desavisadamente danificadas sem qualquer consideração para com os demais munícipes. Por isso, ao plantar uma árvore em espaço público, o ato em si precisa estar bem evidente, sinalizado, e preferencialmente bonito para que seja aceito pela vasta maioria das pessoas.
7.3.1. Planejando o serviço de plantio¶
Se é apenas ocasionalmente que isso ocorre, o plantio de uma ou duas árvores provavelmente não exigirá uso de ferramentas motorizadas e o serviço todo poderá ser feito manualmente. No entanto, se o serviço envolve arborizar uma rua inteira no menor tempo possível, recomenda-se, obviamente, o uso de ferramentas motorizadas, especialmente a motocavadeira.
Assim como planejar a arborização urbana, planejar os serviços de manejo também é essencial. Primeiramente deve-se separar todos os equipamentos e insumos necessários, incluindo as mudas, e a água para a primeira rega. Dependendo da quantidade de mudas, será necessário providenciar o pessoal, veículos e maquinário necessário. Antecipe o que você vai precisar conferindo a lista na seção Gestão e Manejo.
SEPARE TUDO QUE VOCÊ VAI PRECISAR:
- A(s) muda(s);
- O(s) tutores(s);
- Algo para amarrar frouxamente o(s) caule(s) ao(s) tutor(es);
- Ferramenta para cavar (e.g., picareta, pá-de-corte)
- Tesoura ou faca para tirar embalagem do torrão sem desmanchar o torrão
- Composto orgânico curado e calcário se necessário
- Uma fonte de água
- Luvas para manuseio do solo e do material;
- Etiqueta para a muda;
7.3.2. Plantando as árvores¶
Definido o local de cada muda, devem-se escavar as covas. Cada cova deverá ser no mínimo duas vezes maior que o torrão da muda que cada cova receber, tanto na largura como na profundidade. Isso faz com que o solo no entorno do torrão seja descompactado. Além do mais, caso necessário, deve-se corrigir o pH com calcário e adicionar composto orgânico perfeitamente curado. Assim as mudas terão melhores condições de subsistência no primeiro ano após o plantio. Detalhamento da correção do pH do solo tanto quanto da adicção de matéria orgânica foge do escopo deste manual, e depende de análise do solo. Existem kits que podem ser adquiridos para análise no próprio local, os quais vem com seus respectivos manuais de instruções.
Ao retirar a muda do recipiente, isto é, separar o torrão do recipiente, é preciso ter o máximo de cuidado: É muito importante que NÃO DESMANCHE O TORRÃO. As raízes de absorção de água e nutrientes são diferentes das raízes estruturais. Estas últimas são visíveis, mais fortes, e possuem função de sustentar a planta ereta sobre o solo. Já as raízes de absorção são muito mais numerosas e muito finas. Muitas são invisíveis ao olho nu, sendo assim, muito frágeis. Estas raízes estão dentro deste torrão e às margens deste, formando uma malha de absorção que ao se partir implicará em agravamento do choque do transplante. Lembre-se, as mudas das árvores estavam crescendo num local e agora deverão se adaptar a outro local. Se a malha de raízes de absorção se partir, além da muda ter que se adaptar a outro local, ela terá que imediatamente produzir uma nova malha de raízes de absorção. Logo, o choque do transplante será mais agressivo e muitas nem mesmo resistirão.
IMPORTANTE
Jamais desmanche o torrão de uma muda ao replantá-la noutro local. Você estará diminuindo substancialmente as chances da muda sobreviver.
7.3.3. Regando as mudas¶
No transplante da muda de seu recipiente para o solo, no local onde a árvore deverá crescer, o manejo expõe as raízes periféricas à luz e, dependendo das condições atmosféricas, ocorrerá intensa evaporação da umidade do solo, tanto do torrão, como daquele solo incorporado à cova. É imprescindível que se regue as mudas logo após o plantio. Em solos mais secos - isso pode ser percebido durante a escavação da cova - esta rega inicial deve ser mais longa, já que boa parte da água irá se incorporar ao solo do entorno da cova, por capilaridade.
IMPORTANTE
Nunca plante mudas arbóreas sem planejar a rega das mesmas no momento do plantio. É imprescindível que a muda seja regada logo após o transplante de seu recipiente para o local onde a árvore irá crescer.
Após o plantio e a primeira rega, as mudas deverão ser monitoradas pelas próximas semanas. Sempre que o tempo estiver muito seco, deverá ser providenciada rega. Esse procedimento é fundamental para assegurar que as raízes de absorção cresçam e se adaptem.
Caso o município não possa contar com o serviço de monitoramento e rega, dada a quantidade de mudas plantadas, ou a quantidade de locais distintos na cidade, uma prática recomendada é a aplicação de uma quantidade de hidrogel proporcional ao solo da cova. Consulte as recomendações do fabricante. Este insumo tem a capacidade de reter água por mais tempo no solo, permitindo espaçamento entre as regas, e muitas vezes assegurando que o próprio regime de chuvas seja o suficiente para assegurar a pega das mudas.
7.3.4. Tutorando as mudas¶
O tutoramento é principalmente um auxílio artificial à condução da muda, mas ele também serve para sinalizar a localização das mudas, mostrar ao público que no local existe uma muda que foi plantada por alguém, e em geral proteger a muda de roçadeiras, de choques com bolas, bicicletas, sacolas e outros objetos, de ataque de animais herbívoros como cavalos, da subida de lianas, e de pessoas em geral).
O tutoramento das mudas costuma ser um tema controverso. Lembre-se, queremos que a muda se torne uma árvore forte e saudável, pois muito provavelmente estará mais exposta aos ventos do que se estivesse crescendo dentro da floresta. Queremos que a muda não sofra lesões que comprometam seu crescimento futuro. Queremos que a muda cresça relativamente com um caule ereto para evitar conflitos com o trânsito de pedestres e veículos. Tudo isso implica na necessidade de tutoramento adequado. Além disso, os tutores devem ser removidos após o estabelecimento total da muda na sua forma desejada.
IMPORTANTE
Jamais abandone as mudas com tutores. Estes devem ser removidos. Uma árvore que cresce sem a remoção do tutor estará condenada ao risco que quebra no futuro.
Existem muitos tipos de tutores como veremos adiante. A função dos tutores é proteger a muda e em casos necessários, também conduzi-la para o crescimento relativamente ereto, o que vai evitar no futuro os conflitos com os transeuntes.
Dependendo de como é feito o tutoramento, a muda cresce viciada no mesmo. O crescimento radial (espessamento do caule) depende de diversos fatores atuando sobre a planta que inclui principalmente a quantidade de fibras necessárias para prover água para a copa. Mas também depende de como esta copa se comporta no ambiente. Caso ocorram ventos, ou lianas subirem sobre a árvore, a copa ficará mais pesada e envergará o caule. O caule sofrerá pressões mecânicas e isso estimulará a produção de uma resposta metabólica. Novas fibras poderão ser produzidas espessando o caule, ou brotamento secundário pode ocorrer para compensar e mesmo e substituir o caule sob pressão. Isso é facilmente observado no crescimento de mudas no interior da floresta.
É comum vermos mudas exageradamente tutoradas, isto é, cujo tutor foi firmemente preso ao caule. Estas mudas tendem a formar caules altos e finos, dependentes do tutor. Quando uma muda destas cresce e o tutor é removido, as chances dela quebrar com o vento são muito maiores.
7.1.4.1. Tipos de tutoramento¶
Existem diferentes tipos de tutoramento das mudas e sempre existirá a opção de não usar tutor algum se conduzirmos a copa desde cedo na vida da muda. Vejamos cada uma destas opções com relação as suas vantagens e desvantagens, sobre as principais funções, conduzir e proteger a muda.
Não usar tutor algum¶
Primeiro precisamos considerar se realmente queremos tutorar. Na floresta não existe tal situação. Lá é cada um por si. Mas a floresta está geralmente abrigada dos ventos. Porém lá existem lianas que procuram estruturas para escalar em direção ao sol, e galhos que caem das árvores adultas. Muitas mudas arbóreas que crescem na floresta não resistem a estas duas forças. E nem falamos dos animais que se alimentam delas (e.g., herbivoria).
Via de regra, NÃO DEVERÍAMOS FAZER TUTORAMENTO DE SUSTENTAÇÃO FIXA em nenhuma muda. O tutor deveria servir única e exclusivamente para conduzir e proteger o caule. A planta precisa encontrar equilíbrio metabólico por sua própria conta, promovendo o crescimento de caules fortes o suficiente para sustentá-la. É o caule que deve sustentá-la ao longa da vida. Mas se o viveiro tutorou a muda para sustentá-la, é preciso conhecer como este tutoramento foi feito (i.e., amarração que fixa firmemente o caule ou que o deixa relativamente solto).
Caso a muda tenha se desenvolvido sem tutoramento algum, o único tutoramento que iremos considerar para esta muda é o de proteção e condução do caule (quando necessário) e não o de sustentação. Caso tenha ocorrido tutoramento de sustentação que fixa o caule no tutor, teremos que optar inicialmente por tutoramento bem solto para, com o tempo, desviciar a planta ao tutor, além da proteção da mesma. Caso o tutoramento tenha sido com o caule levemente solto, podemos adotar apenas o tutoramento de proteção ao invés do tutoramento de condução do caule. Cabe ressaltar ainda que, dependendo do material utilizado no tutor (i.e., arame, madeira, borracha, plástico), o balanço da muda relativamente solta poderá danificar o caule onde este tocar o tutor, raspando e danificando a casca. Isso precisará ser monitorado e remediado.
Tutor de estaca¶
Os tutores de estaca são normalmente uma ou mais estacas um pouco menores que a altura do caule da muda, que serve de apoio para "amarrar" a muda à estaca. Estas estacas acompanham a muda ao longo do seu crescimento até que possam ser removidas junto com suas amarrações.
A amarração do caule da muda à estaca jamais deve ser feita de forma a fixar o caule à estaca. Dissemos isso acima e repetimos aqui para que seja lembrado. O caule precisa estar solto para balançar ao vento. Além disso, este tipo de tutor e amarração só é recomendado apenas para mudas cujo caule tenha a tendência de crescer torto. Os melhores tutores são aqueles que permitem a muda crescer relativamente livre, em sua forma específica, porém eretos.
Esse tipo de tutoramento pode ser feito com duas, três, quatro ou mesmo mais estacas que podem ser amarradas entre si com borracha de câmeras de bicicleta, por exemplo. A borracha não danifica o caule que se chocar com a mesma ao vento.
- Menor custo;
- Fácil instalação;
- Permite condução do caule sem danificar a muda (desde que as amarrações sejam removidas depois);
- Esteticamente menos intrusivo;
- Permite fácil acesso ao canteiro (nicho) da muda para manejo de ervas daninhas;
- Menor proteção à muda quando for apenas uma ou duas estacas;
- Baixa durabilidade;
- Fácil remoção ou danificação pelo público;
Tutor de tela ou gardil¶
Tutores de tela ou gardil são utilizados principalmente para proteção das mudas e não necessariamente condução das mesmas. É um tutor que cerca a muda em toda a sua volta, evitando que o público acidentalmente cause algum dano. Podem ser utilizados em conjunto com um tutoramento por estaca para evitar que a muda se danifique na própria tela.
- Boa proteção da muda;
- Alta durabilidade
- Fácil visualização;
- Permite facilmente a fixação de placas indicativas.
- Maior custo;
- Quando feitos de tela metálica podem danificar as mudas ao vento;
- Dependendo do material que é feito, podem ser roubados para reuso ou reciclagem;
- Atrapalham o acesso ao canteiro (nicho) da muda para manejo das ervas daninhas;
IMPORTANTE
Quaisquer que sejam os tipos de tutores, estes jamais devem ser fixados muito próximos às mudas, para não danificarem as raízes. Além disso, quaisquer que sejam os tutores, estes devem ser removidos após o estabelecimento sadio, firme e com caules eretos das mudas.
7.3.5. Limitador de canteiro¶
Na ocasião do plantio, caso o município tenha recursos, é recomendável que já se instalem os limitadores do canteiro onde a muda foi plantada, já que o solo já está solto o suficiente para isso. Os limitadores servem principalmente para orientar a equipe de manutenção dos jardins no município e a população em geral sobre qual é a área que não deve ser pavimentada em nenhuma circunstância. Com o passar dos anos a árvore crescerá, e o colo do caule, isto é, a região do caule mais próxima do solo, crescerá em espessura ocupando esta área. Nesse ínterim ela poderá ser ajardinada, mas jamais pavimentada.
Existem diferentes tipos de limitadores que podem ser encontrados nas floriculturas. Os mais duradouros são feitos de concreto. Mas nesse quesito a criatividade para o design não tem limite.
7.3.6. Etiquetando as mudas¶
Não devemos subestimar a importância da etiquetagem das mudas. É ali que começa o respeito do público sobre elas. Quanto mais informativas e criativas forem, melhor será seu efeito positivo para a conservação da muda. Trata-se de um instrumento de comunicação básico que permite ao munícipe conhecer um pouco mais daquela planta jovem que agora se encontra na calçada ou praça.
Sugerimos a etiquetagem com etiquetas duradouras, metálicas, resistentes com impressão térmica que resista à intempérie. Nessas etiquetas serão colocadas informações básicas tais como:
- o nome popular da árvore como ela é conhecida na região;
- o nome científico (para quem desejar conhecer mais sobre a espécie);
- a data do plantio (para dar uma ideia do tempo de crescimento da muda no local);
- o ato normativo municipal que a protege as árvores do município;
- o telefone da secretaria municipal responsável pelo seu cuidado (para denúncias e sugestões).
Sugere-se ainda a inclusão de um código QR na etiqueta que remeta o munícipe a consultá-lo com o telefone celular e assim acessar uma página sobre a planta na World Wide Web, sanando todas suas curiosidades sobre aquela espécie.
IMPORTANTE
Assim como os tutores e as amarrações, dependendo do tipo de etiqueta utilizado, estas também devem ser removidas ou substituídas após o estabelecimento das mudas.