7.4. COMO PODAR ÁRVORES NA CIDADE¶
Podar uma árvore é retirar parcialmente seus ramos. Parece simples, mas este aspecto do manejo da arborização urbana é tão importante que requer um capítulo mais aprofundado só para ele. Utilizaremos o Manual Técnico de Podas de Árvores produzido pela Prefeitura Municipal de São Paulo como referência, dado que esta cidade possui um Plano Municipal de Arborização Urbana bem desenvolvido de forma participativa.
Sendo um ambiente urbano, onde há intensa movimentação de pedestres e veículos, e onde há constantes interações com equipamentos urbanos necessários à qualidade de vida urbana, é inconcebível imaginar que a arborização urbana possa ser bem sucedida sem o manejo mais solicitado pelos munícipes: a poda.
A poda é um serviço que prioriza o ser humano, mas que, em virtude do local onde as árvores estão crescendo, isto é, o meio urbano, acaba também por favorecer a árvore em muitos casos. Vejamos os motivos pelos quais precisaremos podar uma árvore.
7.4.1. Porque podar uma árvore¶
A poda na arborização urbana tem diversas funções. Citamos abaixo algumas delas:
- Dar forma adequada à estética da copa;
- Eliminar ramos com infestações, doentes ou mortos;
- Remover galhos em conflito com o trânsito de veículos ou pedestres;
- Remover galhos em conflito com a iluminação urbana;
- Remover galhos em conflito com a fiação;
- Remover galhos para propiciar melhor visibilidade da sinalização;
- Reduzir riscos associados à queda ou quebra de galhos ou da própria árvore;
- Corrigir problemas ocorridos após danos por ventanias;
- Corrigir erros ocorridos por ocasião de manejos anteriores;
- Conduzir o crescimento da muda;
- Desobstruir a visão da paisagem;
- Desobstruir sinais de telecomunicação;
- Minimizar o entupimento de calhas ou sistemas de drenagem pluvial;
- Maximizar as chances de pega em caso de transplantes de árvores;
- Afastar a galharia de paredes, janelas e sacadas;
IMPORTANTE
Não devemos podar árvores sem critérios que justifiquem a poda. Podar simplesmente pelo hábito cultural de fazê-lo é gerar trabalho e desperdício de recursos públicos.
Por isso, quando feito de maneira correta, em certas situações afirmamos que a poda também traz benefício às árvores pois poderá:
impedir colisões de veículos com os galhos causando danos a ambos;
- Inúmeras vezes no stress do trânsito, na busca por espaço para estacionar, motoristas de caminhões optaram por dar um empurrãozinho no galho que estava atrapalhando. Podemos evitar isso fazendo a poda adequada.
impedir o roçar de galhos na fiação causando danos a ambos;
- Raras são as ocasiões em que a fiação sem isolamento entra em contato com os galhos das árvores. Isso porque o desastre é certo, para a rede elétrica e para a árvore. Na malha urbana a fiação deveria ser toda isolada. O ideal é que não existam fios atravessando copas de árvores.
impedir que pessoas se pendurem nos galhos;
- Ocorre principalmente com crianças e adolescentes e especialmente com árvores frutíferas. Precisamos estar atentos pois na falta da ferramenta adequada para a colheita a quebra dos galhos será inevitável.
impedir que galhos quebrem durante as ventanias;
- Dependendo do crescimento da ramificação, poderão existir galhos que se sobressaem e quebram nas ventanias mais fortes. Esse dano pode ser evitado pela poda, mas caso ocorra, deve ser reparado por poda corretiva.
impedir que galhos mortos apodreçam na árvore;
- Como dito anteriormente no item 5.3.1.1 em Dificuldades de Convívio, a rescindência natural leva à árvore à desistir de alguns galhos durante o seu crescimento. Esse galhos tenderão a apodrecer na própria árvore ou cair. Podemos acelerar o processo simplesmente os removendo mesmo antes de estarem completamente secos.
diminuir o arrasto evitando a queda da árvore.
- Há casos em que a árvore estará plenamente exposta aos ventos com uma copa frondosa e densa. Sua resistência será posta a prova em cada tempestade. Logo, podemos diminui o arrasto reduzindo a densidade da ramificação, lembrando sempre que a poda estimula o brotamento e demanda mais manejo.
Mas atenção, as podas arbóreas são fundamentais tão somente e enquanto se fizerem mesmo fundamentais. Isso quer dizer que precisamos critérios específicos, técnicos e conhecidos para justificar a poda, evitando assim os desperdícios e os equívocos das podas desnecessárias.
Infelizmente existirão inúmeras situações em que não teremos certeza de qual será o manejo adequado. É preciso muita experiência e conhecimento sistematizado (o qual não dispomos) para saber o que fazer. Por isso é importante que o município registre todo e qualquer incidente e acidente com árvores urbanas para que ao longo dos anos esse know-how possa ser construído. De modo geral, somente as árvores e os galhos que realmente necessitam de podas devem ser podados, e este é mais um tópico que deve estar presente no Plano Municipal de Arborização Urbana.
7.4.2. Tipos de poda e suas funções¶
As podas das árvores urbanas são diferentes daquelas feitas em produção de madeira ou de frutas. Na primeira o produtor deseja um fuste (tronco) que possua o mais alto valor comercial possível (i.e., ereto, sem ramificações). Na segunda o produtor quer evitar danos às árvores e maximizar a produtividade das frutas. Na arborização urbana a poda visa primariamente a segurança dos munícipes e do patrimônio minimizando conflitos, e em segundo plano uma estética adequada.
TIPOS DE PODA
É importante conhecer os tipos de poda que iremos tratar aqui para planejar o manejo antes de iniciar os serviços:
- Poda de rebaixamento de copa
- Poda de levantamento de copa
- Poda corretiva
- Poda de condução da copa
- Poda de limpeza ou fitossanitária
- Poda de afastamento predial
- Poda de afastamento da fiação
- Poda exclusivamente estética
- Poda radical
Naturalmente, para maximizar o uso dos recursos públicos, uma mesma árvore pode necessitar de mais de um tipo de poda, e a execução destas deve ser planejada para a mesma ocasião, isto é, preferencialmente na mesma visita e subida à árvore. Essa tipologia de podas é obviamente arbitrária e não devemos nos ater ao seu nome técnico, mas sim aos problemas que a poda se propõe a resolver, buscando sempre a saúde da árvore, a compatibilidade com seu ambiente e sua estética.
A seguir explicaremos cada poda citando justificativas tecnicamente plausíveis para cada uma. No entanto é muito importante acatar o critério técnico dos profissionais do órgão público ambiental, pois os fatores que influenciam a decisão de manejo são múltiplos e muito específicos para cada caso, incluindo a relevância de cada árvores para a coletividade e não apenas para a parte que deseja o manejo. Isto está assegurado na Constituição Federal em seu artigo 225º.
7.4.2.1. Poda de rebaixamento da copa¶
Descrição:
- O rebaixamento de copa é a grosso modo a redução da altura da árvore. Mas quando feito de maneira a respeitar a harmonização da forma da copa, o que ocorre é um desbastar generalizado da galhada toda reduzindo a massa verde de praticamente toda a ramificação. É o tipo de poda que NÃO deve ser feita em árvores de crescimento monopodial (e.g., palmeiras, pinheiros, etc.). É recomendável se limitar a uma redução de no máximo 30% da copa pois o choque metabólico de uma poda maior do que esta pode levar uma árvore à óbito. Naturalmente existem espécies extremamente resistentes, que falaremos mais adiante quando falarmos de poda radical.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Diminuir o arrasto da copa no vento. Desobstruir a visão da paisagem em pontos turísticos. Desobstruir a visão de placas de trânsito e sinaleiras. Diminuir a sombra para possibilitar o cultivo de outras plantas. Diminuir a carga de folhas que caem na estação dormente. Desobstruir sinal de telecomunicações. Evitar que os ramos cheguem à fiação, entre outras.
7.4.2.2. Poda de levantamento da copa¶
Descrição:
- O levantamento de copa é a grosso modo a redução da copa de baixo para cima. Isso é feito em inúmeras ocasiões, mas principalmente para desobstruir a passagem de pedestres e veículos. A grande maioria das árvores que necessitam esse tipo de poda são de pequeno ou médio porte, pois ainda estão em crescimento com ramificação muito baixa.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Desobstruir a passagem de pedestres e veículos. Desobstruir a visão de placas de trânsito e publicidade. Diminuir a sombra. Conformar a copa para ganhar altura. Afastar os ramos mais baixos da fiação, quando a árvore já está mais alta que a rede de distribuição.
7.4.2.3. Poda corretiva¶
Descrição:
- Como o próprio nome diz, este tipo de poda inclui todas aquelas medidas corretivas que tomamos em árvores cujo manejo foi mal feito ou de gosto duvidoso. Corrigem-se erros ou galhos furtivos que acabam por comprometer a estabilidade da copa.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Reparo de podas mal feitas. Redução de riscos associados a um ou outro galho que possa ter se tornado dominante na copa. Remoção de brotamento excessivo após uma poda radical.
7.4.2.4. Poda de condução da copa¶
Descrição:
- A condução da copa deve ser feita desde jovem, isto é, desde a muda plantada. Mas podemos conduzir a copa de árvores adultas também, principalmente as de pequeno e médio portes. Basta entendermos que a poda estimula o brotamento. Os galhos que permanecem continuarão crescendo. Dos brotos emergentes, eliminaremos aqueles que crescerão para onde não devem, ou que são excessivos. A condução da copa é uma arte e uma técnica que implica o acompanhamento da árvore e da espécie. É o tipo de poda que deixa as árvores urbanas em condições perfeitas de manutenção e por isso deve ser considerada rotina no gerenciamento da arborização urbana.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Diminuir os custos com manejo da arborização urbana. Promover arborização urbana com uma estética agradável. Evitar problemas futuros com copas mal formadas.
7.4.2.5. Poda de limpeza ou fitossanitária¶
Descrição:
- As vezes as árvores urbanas ficam carregadas de hemiparasitas, isto é, plantas que utilizam a seiva da árvore, mas que também fazem fotossíntese como a Erva-de-Passarinho. Outras vezes podem estar carregadas de lianas. Outras ainda podem estar com galhos quebrados presos na copa ou ainda uma combinação desses fatores. Podem ainda ter danos com infestações de insetos, com apodrecimento e outras mazelas que as árvores sofrem. A poda de limpeza ou fitossanitária visa aliviar a árvore destes fatores prejudiciais ao seu equilíbrio mecânico e metabólico. É um tipo de poda minucioso e trabalhoso, mas essencial para estender o tempo de vida da árvore. Incluem-se aqui também a remoção de cabides ou aqueles tocos que ficaram sem ramificação, de podas anteriores ou quebra de galhos que deixaram o lenho exposto.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Diminuir a massa vegetal que pesa sobre a copa. Reparar danos causados por podas mal feitas. Eliminar infestações e infecções. Contribuir com a longevidade da árvore diminuindo fatores de stress mecânico e metabólico.
7.4.2.6. Poda de afastamento predial¶
Descrição:
- Este é o tipo de poda mínima que se faz para evitar que o balanço dos galhos da copa de uma árvore rocem sobre janelas, paredes, sacadas e telhados causando danos a estas estruturas e à própria árvore. É preciso avaliar bem esse tipo de poda para não causar excessivo desbalanceamento da copa o que poria toda a árvore em risco. Caso haja a necessidade, há que se pensar em podar outros galhos para assegurar este equilíbrio.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Evitar os riscos associados à proximidade da galhada com as estruturas prediais. Proteger a árvore e estas estruturas.
7.4.2.7. Poda de afastamento da fiação¶
Descrição:
- Semelhante à poda de afastamento predial, mas aqui estamos falando de afastamento da fiação, seja de distribuição de energia ou de telecomunicações. Quando se tratar de poda de afastamento de cabos eletrificados, é preciso considerar o uso de equipamentos de proteção individual e pessoal especializado que normalmente a companhia de energia elétrica dispõe. A poda em "V", isto é, aquela que parece cortar a copa pela metade para a passagem dos fios, é muito comum, porém de estética duvidosa. O ideal é planejar a arborização urbana para que não haja a necessidade de fazer esse tipo de poda.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Diminuir os riscos associados ao roçar dos galhos nos fios, tanto para a rede de distribuição de cabos como para a árvore.
7.4.2.8. Poda exclusivamente estética¶
Descrição:
- É o tipo de poda feito para conformar a forma da copa ao gosto estético de cada um. As árvores são bonitas por natureza, mas dado seu comportamento de rebrotamento, algumas pessoas acham bonito conformar a ramificação a todo tipo de formatos interessando, uns mais harmoniosos que outros. Essa técnica também é conhecida por topiaria.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Dar forma específica a copa das árvores. Padronizar a arborização de uma via pública.
7.4.2.9. Poda radical ou drástica¶
Descrição:
- É um dos tipos de poda mais comuns feitos nos municípios da região. Consiste na remoção total ou quase total da copa deixando a árvore desprovida de folhagem. A poda radical é também conhecida como poda de preguiçoso, pois em muitos casos pode ser feita sem mesmo subir em escadas ou na árvore. Erroneamente muitos municípios optam por este tipo de poda para se livrarem do serviço o mais breve possível. Porém, é o tipo de poda que condena a árvore ao manejo frequente já que estimula o brotamento de muitos galhos ao mesmo tempo e a partir do mesmo local no caule dominante. Além disso é de estética duvidosa.
Justificativas técnicas plausíveis:
- Geralmente não existe justificativa plausível para esse tipo de poda. Mas podem existir casos raros em que não se quer perder a árvore, porém há que se reduzir drasticamente a copa para fins de edificação, reformas, e instalações de equipamentos, ou mitigação de riscos. Além disso, no caso de se optar pelo compromisso de se fazer o manejo anual da árvore, a poda radical pode ser uma opção para manter árvores de pequeno e médio porte sob a fiação, visto já estarem crescendo no local, ou os fios terem sido instalados sobre elas.
7.4.3. Como cortar os galhos de uma árvore¶
Primeiramente é importante usar a ferramenta certa para o galho certo. Tesouras de poda conseguem dar conta de galhos com menos de 1cm de diâmetro. Maior que isso recomenda-se o tesourão até uns 2cm. Depois há que se pensar no serrote de poda e na motosserra ou motopoda. Jamais se faz poda com facão ou machadinha. Estas são ferramentas para destruir a vegetação e não manejá-la.
IMPORTANTE
Jamais use facão, machadinha ou machados para podar uma árvore. São ferramentas de impacto para destruição da vegejataçao e não para o manejo. Não possuem qualquer precisão e os danos causados tendem a reduzir o tempo de vida útil das árvores.
7.4.3.1 O corte em etapas¶
O corte de galhos grossos em etapas é utilizado para evitar que o galho quebre e lasque a casca do caule durante o trabalho. Esse erro é básico na poda de uma árvore e as consequências são grandes feridas abertas na casca expondo o lenho à intempérie e a agentes infecciosos. À exceção de substâncias químicas armazenadas no lenho (e.g., tanino), o lenho não apresenta defesa natural biológica, isto é, já não possui mais metabolismo que impeça uma infecção. São às camadas mais superficiais ao caule que terão que dar conta da situação. A exposição ao tempo favorece a colonização de fungos e a podridão enfraquecendo a árvore. Para evitar estas consequências os galhos mais grossos precisam ser removidos com cuidado para que não lasque o caule. Trata-se do corte em três etapas.
O primeiro corte é feito logo abaixo do ponto de ruptura, na superfície inferior do galho, com profundidade de mais ou menos um terço da espessura do caule. Esse corte transversal às fibras impedirá que as forças do peso da queda do galho (que ocorrerá no segundo corte) se arrastem longitudinalmente pelo caule.
O segundo corte é feito próximo e um pouco acima do primeiro, mas no lado oposto, isto é, na superfície superior do galho. Desta forma restarão poucas fibras para sustentar o peso do galho e ele vai quebrar nesse ponto fraco. Esse é o objetivo.
O corte final é feito um pouco acima do colar do galho, isto é, ligeiramente acima do ponto onde se conecta com o caule, deixando casca saudável para promoção da cicatrização. Às vezes o cansaço ou a preguiça farão com que pulemos essa etapa. NÃO devemos esquecer deste terceiro corte. Além de deixar a árvore mais bonita, caso não seja feita a abertura no lenho poderá virar em podridão que se estenderá para dentro do caule onde já não poderá mais ser tratada. Muitas árvores ficam ocas por ocasião desse tipo de lesão. O terceiro corte é fundamental tanto quanto os dois primeiros.
7.4.3. Quando podar uma árvore¶
Todo o manejo vegetal que puder levar a planta a um choque metabólico, isto é, mudanças radicais que impõem à árvore a necessidade de adaptação rápida (e.g., poda, transplante, plantio) deve preferencialmente ser feito no início do período de dormência ou repouso vegetativo. Esta fenofase é caracterizada pelo desaceleramento do metabolismo e armazenamento de substâncias de reserva e de defesa. Logo, no RS de modo geral, as podas devem ser feitas no final do outono, início de junho.
Mas há exceções: existem muitas espécies que não dormem, que são capazes de manter a atividade metabólica mesmo nos dias muito frios ou mesmo secos. Para essas espécies é preciso observar em que fase estão (e.g., floração, frutificação, dispersão de sementes, brotação). Deve-se dar preferência para a poda após o amadurecimento e queda dos frutos.
7.4.4. O manejo da fauna durante as podas¶
Não podemos e não devemos esquecer da fauna associada às árvores urbanas. Antes de podar qualquer árvore é importantíssimo inspecionar o caule, os galhos e a copa para a presença de ninhos, tocas e/ou animais associados à mesma, isto é, que poderão estar habitando a árvore ou estar temporariamente utilizando a árvore para reprodução, esconderijo ou alimentação.
Nos casos em que houver fauna silvestre presente, deve-se aguardar que os animais abandonem a árvore. Nos casos urgentes, deve-se promover o afugentamento e/ou o resgate e a realocação dos animais capturados. Isso deve ser feito com orientação de profissionais legalmente habilitados (e.g., biólogos especialistas no táxon e veterinários).