7.5. CUIDADOS QUE AS ÁRVORES EXIGEM¶
Geralmente as árvores já estabelecidas, que já não são mais mudas recém plantadas no novo local não precisam de cuidados constantes. Mas a vida longa e exposta ao tempo, às condições ambientais urbanas, ao empobrecimento do solo, aos danos causados pelas interações com as pessoas, pelos ventos, por outros animais, veículos e etc. podem diminuir a expectativa de vida da árvore ou promover crescimento anômalo.
Existe ainda a possibilidade de condições climáticas extremas como a geada, a seca, os alagamentos que são muito prejudiciais a muitas espécies. Em função destas mazelas, a atenção às árvores urbanas nunca poderá ser nula. Jamais haverá uma época na administração pública que as preocupações com a arborização urbana desaparecerão.
CUIDAR DE ÁRVORES URBANAS INCLUI:
- Regas em tempos de estiagem
- Auxílio na cicatrização de feridas
- Fertilização em caso de solo empobrecido
- Podas diversas dependendo das condições
- Remoção de parasitas
- Auxílio estrutural (para casos extremos)
- Tratamento de doenças ou infecções
Vejamos agora os principais serviços de cuidados e manutenção que ainda não foram descritos.
7.5.1. Rega¶
Na vasta maioria das situações as raízes das árvores urbanas conseguem alcançar os níveis do lençol freático e dificilmente árvores adultas precisarão de rega. Este é um serviço primariamente reservados às mudas recentes, que se encontram no primeiro ano do seu plantio. Mas há casos extremos de estiagem que podem mudar o cenário. Caso houver um período de 3 a quatro semanas seguidas sem nenhuma gota de chuva, é possível que algumas árvores já comecem a exibir sinais de stress tais como enrolamento das folhas e a subsequente perda destas. Em casos assim, a prefeitura precisa acionar os serviços de rega para salvar estes exemplares.
7.5.2. Ajuda na cicatrização¶
Após a poda ou após a quebra de um galho, a árvore precisa cicatrizar a abertura que se deu sobre o seu sistema de suporte (lenho), para evitar que fungos e outros agentes infecciosos comecem a decompor as fibras. Para tanto a árvore tentará produzir casca no local. A fim de inibir o processo infeccioso são tomadas duas medidas:
Ajuste da ferida deixando o caminho para o crescimento da nova casca o mais simples possível. Procura-se reparar o corte deixando-o o mais liso possível, sem lascas, bem serrado para que a casca possa logo crescer por cima. Facilita-se assim o processo de compartimentalização celular.
Aplicação de alguma película impermeabilizante. Alguns arboristas utilizam uma camada generosa de hidroasfalto espesso. Outros adotam tinta plástica de exterior. O importante nesse momento é aplicar o produto apenas no lenho, deixando a casca (o tecido vivo no entorno da ferida) intacta. Ali onde as células crescerão, no entorno do lenho, não deve ser aplicado nada. A árvore tomará o seu próprio curso para cobrir a ferida.
Em casos graves, isto é, de superfície de lenho muito grande que a árvore não poderá cobrir com nova casca, não há muito o que fazer, mas continuar a aplicação do produto de tempos em tempos.
7.5.3. Fertilização do solo¶
A fertilização do solo de árvores também é uma prática pouco utilizada, já que em muitos casos as raízes alcançam horizontes do solo que possuem estrutura, minerais e matéria orgânica suficientes para o seu crescimento. No entanto, há casos em que se percebe na árvore a necessidade de fertilização do solo. As folhas podem se tornar cloróticas (perdem o verde característico), a árvore adoece ou é infestada por insetos ou parasitas.
Nesses casos pode-se aplicar enriquecedor de solo (geralmente um solo rico em matéria orgânica, de textura aerada). Essa aplicação deve ser feita no solo, escavando buracos ou coroando todo o entorno das raízes nas imediações do limite de projeção da copa. Nessa região estarão as raízes de absorção.
7.5.4. Podas mais uma vez¶
Vimos anteriormente que podar uma árvore traz diversos benefícios para a árvore também, especialmente quando o ambiente em que esta estiver crescendo não for muito favorável ao seu crescimento. Cabe aqui ressaltar que, em se tratando de árvores urbanas, a poda é um tipo de cuidado e não uma técnica de mutilação indiscriminada da planta. É um serviço relativamente pesado, complexo, que exige esforço e técnica corporal. Portanto, deve ser feito com a consciência e o esforço que exige. Maiores detalhes podem ser consultados na seção 7.4 - Podas.
7.5.5. Remoção de parasitas¶
Como plantas não podem fugir, a evolução biológica as levou ao desenvolvimento de uma infinidade de substâncias químicas e estruturas anatômicas de proteção contra herbivoria e parasitismo. Mesmo assim, os seres vivos que se alimentam das plantas, ou as utilizam como ambiente de moradia e/ou reprodução também evoluíram. Esse passado nos mostra hoje uma diversidade incrível de flora arbórea. Mas também nos mostra uma diversidade de fauna e flora que habita as árvores, muitas vezes prejudicando-as. A estes seres vivos (fauna ou flora) que vivem nas árvores se alimentando delas, sejam das partes aéreas, superficiais ou internas, para simplificar, chamamos aqui de parasitas.
Parasitas podem ser animais assim como outras plantas. Em muitos casos uma árvore saudável dará conta da infestação e ambos, parasita e hospedeiro, conviverão por muito tempo juntos. Mas há casos em que a árvore fica realmente infestada e definha rapidamente, perdendo suas funções benéficas ao meio urbano. Por isso precisamos estar atentos a estas infestações e intervir cedo para que permaneçam manejáveis.
A remoção de parasitas pode ser feita manualmente, cortando galhos infestados, arrancando ou removendo os parasitas, ou ainda por processos químicos, isto é, aplicação principalmente de inseticidas, acaricidas e fungicidas. Fazer essa distinção pode ser complexo, e às vezes é preciso recorrer a um botânico especialista.
NÃO CONFUNDA PARASITISMO COM EPIFITISMO
Há muitas plantas chamadas epífitas que vivem sobre as árvores, ancoradas nestas, e que inclusive as beneficiam. Uma árvore de grande porte dentro da mata, pode ter milhares de outras plantas associadas a ela, convivendo de forma ecologicamente saudável. É o caso para muitas espécies de bromeliáceas, orquidáceas, cactáceas, pteridófitas e briófitas.
As plantas epífitas utilizam a árvore para suporte. As plantas parasitas se alimentam da árvore, ou de substâncias que esta produz.
7.5.6. Auxílio estrutural¶
Há casos em que uma árvore digna de tombamento pelo patrimônio público encontra-se em estado fitossanitário precário. Essas árvores frondosas são geralmente de grande porte e as condições precárias impõem risco de danos maiores (e.g., quebra da árvore toda ou de galhos). Para não perder este patrimônio, muitas vezes a saída é realizar uma operação de resgate de suas condições fitossanitárias saudáveis associado a um auxílio estrutural artificial. Chamamos a estas operações de dendrocirurgia.
Dependendo da dendrocirurgia poderá ser uma operação de dias de serviço, iniciando pela limpeza dos parasitas, remoção da massa vegetal da árvore que está precária (poda de limpeza), raspagem e tratamento das áreas do caule e galhos apodrecidos, e por fim auxílio estrutural. Este auxílio estrutural pode ser na forma de suporte com escoras combinado com o preenchimento de buracos ou lacunas do caule com concreto. As escoras obviamente reduzem o stress mecânico sobre os galhos e o caule, e o preenchimento com concreto provê solidez estrutural também para o caule.
7.5.7. Tratamento de doenças ou infecções¶
O tratamento de doenças e infecções das árvores faz parte do cuidados e atenção que precisam. No entanto, é tão complexo quanto o tratamento de doenças e infecções de culturas agrícolas. Por isso, em casos extremos, há que se consultar um especialista (e.g, Agrônomo, Técnico Agrícola, Engenheiro Florestal, Biólogo) nos táxons (parasitas e hospedeiros) envolvidos. Este profissional fará uma análise abrangente dos sintomas e usará do conhecimento e experiência adquiridos para receitar a melhor remediação a ser tomada.